Como em tantas outras atividades, pessoais ou profissionais, a política costuma punir com rigor o excesso de pressa ou seu avesso, a vagarosidade.
Tomar a decisão certa, no momento preciso, costuma fazer toda a diferença no resultado. Há duas semanas, o presidente Jair Bolsonaro arriscou um movimento com um timing, no mínimo, questionável. Durante o principal encontro evangélico do país, a Marcha para Jesus, em São Paulo, ele confirmou, abusando das condicionais, a intenção de disputar a reeleição em 2022. “Se não tiver uma boa reforma política, se o povo quiser, estamos aí.”
Na verdade, repetiu, de forma um pouco mais explícita, o que havia dito em entrevista exclu¬siva dada a VEJA no início do mês.
Evidentemente, desde que a emenda da reeleição foi aprovada, em junho de 1997, há 22 anos, foram raros os mandatários de cargos executivos que não arriscaram o segundo mandato. No caso de Bolsonaro, porém, dois deta¬lhes chamaram atenção.
O primeiro é a quebra de uma promessa de campanha. No calor da disputa em 2018, antes da facada, o candidato do PSL alegou muitas vezes que não tinha intenção de permanecer no cargo por mais de um mandato. Usava tal argumento como um diferencial seu em relação aos demais, uma prova de superioridade ética ante os que almejam o poder apenas para ali se perpetuar.
O segundo ponto curioso é justamente o momento de tal anúncio. É esperado que cedo ou tarde um presidente assuma sua condição de candidato à reeleição. Todos os que foram eleitos assim procederam (Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff). Mas nenhum deles saiu do armário e revelou publicamente tal desejo com apenas seis meses no cargo. Isso é inédito.
Diante de tamanha sinceridade presidencial, espera-se ao menos que Jair Bolsonaro não se esqueça de governar. Fazer campanha e cuidar da gestão pública são duas tarefas muito diferentes. Uma lida com o futuro, com intenções e promessas — o terreno das paixões, do “Nós contra Eles”. A outra precisa estar ligada ao presente, aos problemas do dia a dia, e 100% focada nos resultados.
Ao partir para uma agenda de campanha antecipada, Bolsonaro sai da figura de líder de todos os brasileiros para representar apenas uma ala deles. Com isso, intensifica a polarização que, infelizmente, hoje domina o debate político no país.
Trata-se de uma conversa totalmente fora de hora. Temos problemas graves e urgentes para resolver, a exemplo do desemprego e do baixo crescimento econômico. E quem pode, ao lado do Congresso, implementar algo nos próximos três anos e meio para que eles sejam debelados é justamente o presidente eleito Jair Bolsonaro.
Existem boas diretrizes e ideias neste governo (algumas quase concretizadas, como a reforma da Previdência). Mas primeiro elas precisam sair do papel, antes de iniciarmos um novo, e ainda distante, ciclo eleitoral. As conquistas da administração atual serão a melhor plataforma possível para o Bolsonaro 2022. Portanto, o momento agora é de fazer — não de falar, tuitar, polemizar, dividir…
Publicado em VEJA de 3 de julho de 2019, edição nº 2641
Nenhum comentário:
Postar um comentário