- Revista Época
A batalha da inflação está ganha, mas o país não pode abrir mão do sistema de metas de inflação, defendeu Edmar Bacha, para quem o Brasil está numa situação dramática. Um dos pais do Plano Real, é diretor da Casa das Garças, instituição dedicada a estudos e debates da economia.
Como o senhor avalia o Plano Real?
Na parte da implementação do ajuste fiscal, o dever de casa ainda não foi concluído. Não conseguimos retomar uma agenda de crescimento sustentado pós-Real. O período de maior crescimento foi o auge das commodities, e foi algo que veio de fora. Acabou o auge, acabou o crescimento, ou o delta de crescimento. É complicado voltar a crescer, tem ainda o problema circunstancial que é o fato de que, desde 2014, o país está em depressão. Nossa situação é dramática.
O senhor diria que o país vive um período tão conturbado quanto o de 1994?
Recuperamos o instrumento monetário e o câmbio. Hoje, temos US$ 350 bilhões de reservas, e o Brasil é superavitário em termos de créditos em dólares versus débitos em dólares. Então este problema desapareceu. As políticas cambial e monetária têm mais flexibilidade, mas temos de resolver a questão fiscal. É uma batalha difícil. Existe hoje um conjunto de planos e projetos cuja questão básica é decisão política e capacidade de fazer as leis serem aprovadas no Congresso.
Como desatar o nó da política?
Temos um presidente que não gosta de política. Ele precisa mudar de atitude. Se o presidente Bolsonaro quiser ser reeleito, ele vai ter de mudar. A questão é se ele vai mudar por convicção ou precisaremos chegar a uma crise ainda maior que a atual. Pelo visto, acho que o governo vai precisar de uma crise para mudar de atitude. Nada indica que as coisas vão melhorar o suficiente para ultrapassarmos a batalha da Previdência, que é apenas uma batalha. Está ficando muito custoso em termos do ajuste fiscal.
E como retomar o crescimento?
A equação para retomada do crescimento não é simples. Existe uma abundância de recursos financeiros no mundo. O problema é onde aplicar a poupança externa, e o Brasil não oferece um ambiente atrativo.
O senhor acredita que a inflação é um problema resolvido?
Não podemos abrir mão da meta da inflação. Ela veio para ficar.
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