- Revista Época
Defensor dos regimes de meta de inflação e de câmbio flutuante, o ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda Pedro Malan afirmou que os dois regimes não deveriam mudar.
Visto em retrospecto, o senhor diria que o Plano Real deu certo?
O Plano lidou com o mais urgente dos desafios, que era a inflação naquele ano. Nós sabíamos que ela ultrapassaria 2.000%. Em 1988, foi 250%... era insustentável dar continuidade àquela situação. Não era o desafio fundamental, que resolveria todo o resto. Tínhamos a clara consciência de que era o mais urgente dos desafios. E, uma vez que a hiperinflação fosse derrotada, como foi, a agenda do Brasil, pós-derrota da hiperinflação, era a agenda que se confundia com a agenda do desenvolvimento econômico e social do país. Era o mais urgente, mas nunca achamos que era um fim que se esgotava em si mesmo.
O dever de casa pós-Real foi feito?
Em 13 de junho de 2019, completamos 26 anos do lançamento do Programa de Ação Imediata (PAI), um texto relevante onde defendíamos, com muita clareza, que o desafio mais urgente era a inflação. Esse foi o primeiro documento do Plano Real, e já estava lá que, após o controle da inflação, seria preciso enfrentar o descalabro das contas públicas. Faz duas décadas que o regime de metas de inflação foi adotado. Ele serviu bem ao país, e eu espero que continue servindo. E há 20 anos e seis meses estamos com o regime de taxa de câmbio flutuante, que também serviu bem ao país, e eu espero que continue servindo. Esses dois regimes não deveriam mudar.
A reforma da Previdência seria uma forma de resolver o problema fiscal?
No Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, em Minas Gerais e em alguns municípios, o descontrole fiscal continua sendo a agenda fundamental de longo prazo. Precisamos aprovar a reforma da Previdência, mas ela precisa ser robusta, porque os gastos estão subindo numa velocidade absolutamente insustentável. E o pior: o aumento desses gastos está reduzindo a alocação de recursos para outras áreas, como saúde e educação. Assim como o Real não era uma panaceia, a solução, um fim em si mesmo, a reforma da Previdência também não é. Mas, caso ela não venha a ser aprovada, pode provocar um efeito negativo sobre a formação das expectativas, o que pode retardar ainda mais o crescimento. Aqui no Brasil temos dificuldade de fazer uma operação aritmética simples: a soma. Nem sempre a soma dos desejos é compatível com a receita.
Nenhum comentário:
Postar um comentário