No dia 1º de julho, a moeda brasileira, o real, completa 25 anos em circulação. Será o padrão monetário brasileiro mais duradouro desde o Estado Novo. Não é feito pequeno para um país que teve nove moedas no período. Trocou o real, implantado no Brasil Colônia, pelo cruzeiro (1942), este pelo cruzeiro novo (1967), voltou ao cruzeiro (1970), inventou então o cruzado (1986), depois o cruzado novo (1989), para voltar ao cruzeiro (1990), migrar para o cruzeiro real (1993) e, enfim, retornar ao real (1994).
A nova moeda surgia na tentativa de conter a crise inflacionária brasileira, com raízes na década de 50 e tonificada no regime militar. Nessa época, os preços subiam cerca de 3.000% ao ano. Hoje sobem algo próximo a 4,5% ao ano.
A inflação é um imposto disfarçado que incide sobre o salário e prejudica aqueles menos capazes de se defender — as pessoas que não têm acesso a investimentos no sistema financeiro. A maioria paga, e só alguns poucos, mais do que se protegem, lucram com ela.
A sapiência do Plano Real estava em trocar o controle de preços pelo controle do câmbio. Era a chamada âncora cambial, que segurava a variação de preços usando, por exemplo, a importação de bens e produtos.
O real trouxe organização econômica para o país, com ganhos para o poder público e para a população em geral. Baixou de fato a inflação, mas a estabilização não foi suficiente para deslanchar o crescimento econômico. Aos poucos, o Brasil chegou à inflação de apenas 1,5%, em 1998. Os juros, no entanto, continuavam de terceiro mundo. O Banco Central jogou a taxa básica nas alturas, desestimulando o consumo e atraindo investidores para equilibrar as contas externas. Inflação baixa e juro alto resultaram em pouco crescimento econômico, sustentado em boa parte pelas exportações.
O Produto Interno Bruto (PIB), que mede a riqueza produzida no país, crescia quase 6% no lançamento do real. Quatro anos depois, em 1998, a economia brasileira praticamente parou de crescer. A estagnação coincidiu com as crises externas da Ásia e da Rússia, entre 1997 e 1998.
Durante a década de 90, ocorreram os problemas de balanço de pagamentos advindos da paridade com o dólar — um tipo de paridade destruidor para a economia brasileira, dada sua baixa produtividade.
Com a queda nas exportações e o fantasma da recessão, o governo desvalorizou fortemente o real no início de 1999. O Banco Central adotou o câmbio flutuante e o sistema de metas para a inflação. Em 2008, a crise financeira mundial voltou a desarrumar a situação econômica.
A estabilidade é uma condição necessária para o objetivo final: a melhoria das condições de vida da população por meio do crescimento econômico. Cumprida a primeira etapa, essencial, o país ainda patina na segunda. Nesse contexto, surgem as tão debatidas reformas de Estado, a da Previdência, a tributária e a trabalhista. Essas adequações são essenciais para que o país caminhe rumo à redução da desigualdade e à melhor distribuição da renda. São temas polêmicos, sujeitos a debates econômicos e político-ideológicos, cabendo a decisão final aos cidadãos em geral.
Nesse aspecto, cabe mencionar um insuspeito acontecimento desta semana. Quase duas dezenas de bilionários dos Estados Unidos, a meca do empreendedorismo econômico, assinaram uma carta aberta defendendo a criação de impostos sobre grandes fortunas, tema na agenda de alguns candidatos presidenciais, mas não do presidente Donald Trump.
Ao propor que o 1% mais rico pague mais impostos, os bilionários — liderados pelo emblemático George Soros — resumem sua intenção: “A América tem uma responsabilidade moral, ética e econômica de tributar mais nossa riqueza. Um imposto sobre a riqueza poderia ajudar a enfrentar a crise climática, melhorar a economia, melhorar os resultados de saúde, criar oportunidades e fortalecer nossas liberdades democráticas. Instituir um imposto sobre a riqueza é do interesse de nossa República”.
Mais do que a discussão efetiva sobre taxar grandes fortunas no Brasil, a grandeza do exemplo desses bilionários americanos está em mostrar que o debate deve ser aberto e partir do princípio básico de justiça social. Ou seja, quem tem mais deve pagar mais.
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