Por Lionel Barber e Henry Foy | Financial Times, de Moscou / Valor Econômico
Vladimir Putin alardeou o crescimento dos movimentos populistas nacionais na Europa e nos EUA, ao clamar, triunfante, que o liberalismo acabou como força ideológica. Em entrevista ao "Financial Times", concedida no Kremlin na véspera da cúpula do G-20, o presidente russo disse que "o pensamento liberal ficou ultrapassado", pois a opinião pública se voltou contra a imigração, as fronteiras abertas e o multiculturalismo.
O ataque impiedoso de Putin ao liberalismo - ideologia ocidental dominante desde o fim da Segunda Guerra Mundial em 1945 - está em sintonia com os líderes anti-establishment, do presidente Donald Trump ao húngaro Viktor Orbán, o italiano Matteo Salvini e a rebelião do Brexit no Reino Unido.
"[Os liberais] simplesmente não podem mais ditar nada a ninguém, como tentaram fazer ao longo das últimas décadas", disse.
Putin tachou a decisão da premiê Angela Merkel de autorizar o ingresso de mais de um milhão de refugiados na Alemanha - principalmente sírios fugindo da guerra - de "erro essencial". E elogiou Trump por tentar deter o fluxo de migrantes e de drogas do México.
"Esse pensamento liberal pressupõe que não é preciso fazer mais nada. Que os migrantes podem matar, saquear e estuprar impunemente porque seus direitos de migrantes têm de ser protegidos." E completou: "Todo crime tem de ter seu castigo. O pensamento liberal se tornou obsoleto. Entrou em choque com os interesses da maioria esmagadora da população".
Como governante "de fato" da Rússia há quase duas décadas, Putin, de 66 anos, foi regularmente acusado de apoiar, secretamente, movimentos populistas por meio de ajuda financeira e mídias sociais, notadamente na eleição presidencial de 2016 nos EUA, no plebiscito do Brexit e na recente eleição para o Parlamento europeu.
Ele negou enfaticamente essa acusação. Desqualificou como "interferência mítica" a conclusão do promotor especial Robert Mueller de que a Rússia teria atuado sistematicamente na eleição nos EUA.
Ao abordar a guerra comercial EUA-China e as tensões geopolíticas no Golfo Pérsico entre os EUA e o Irã, Putin disse que a situação ficou "explosiva". O problema, afirmou, provém do unilateralismo americano e da falta de regras que sustentem a ordem mundial.
Ele expressou preocupação com a ameaça de uma nova corrida armamentista nuclear entre EUA e Rússia. "A Guerra Fria foi ruim... mas, pelo menos, havia algumas regras às quais todos os participantes aderiram em maior ou menor grau ou tentaram seguir. Agora, ao que parece, não há absolutamente regra nenhuma", disse.
Putin disse que os governos liberais não tomaram providências para tranquilizar seus cidadãos. Em vez disso, defenderam um multiculturalismo tolo, ao abraçar, entre outras coisas, a diversidade sexual. "Não temos nenhum problema com pessoas LGBT. Que eles vivam como quiserem", disse. "Mas algumas coisas nos parecem exageradas. Eles afirmam agora que crianças podem desempenhar cinco ou seis papéis de gênero."
"Não se pode permitir que isso ofusque a cultura, as tradições e os valores familiares tradicionais de milhões de pessoas que são o núcleo básico da população."
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