- IstoÉ
Em 30 anos de vida parlamentar, a maior obra do presidente foi eleger seus rebentos. Juntos, os quatro adotaram a bandeira do irracionalismo
Jair Bolsonaro é uma figura exótica — no mínimo. Permaneceu 30 anos na vida legislativa e não deixou rastros. Nos dois anos passados na câmara de vereadores do Rio de Janeiro, nada fez. Sua atuação como fiscal do Executivo municipal foi nula. Mesmo assim, explorando oportunisticamente o tema da segurança pública, conseguiu se eleger deputado federal em 1990.
Passou 28 anos na Câmara dos Deputados. Presidiu comissões? Relatou projetos? Debateu os grandes temas nacionais? Os anais da casa nada registram. Foi o exemplo mais acabado do que se conhece como baixo clero. Pouco trabalhou. Omitiu-se nos momentos mais graves das últimas três décadas. Faltou a muitas sessões.
Acostumou-se ao ócio, à boa-vida dos parlamentares, todo mês com o salário garantido, as despesas pagas, empregando familiares e amigos, sempre com dinheiro público. Gostou tanto das benesses da velha política que introduziu sua primeira esposa, em 1992, como vereadora no Rio de Janeiro.
Quatro anos depois foi a vez de Carlos Bolsonaro ser candidato à vereança contra a própria mãe — o que daria um belo ensaio psiquiátrico. Em 2002, para a assembleia legislativa fluminense, chegou a hora de seu filho mais velho, Flávio. Em 2014, aproveitou a oportunidade para ocupar o espaço em São Paulo com Eduardo, uma espécie de deputado biônico, sem qualquer ligação efetiva com o estado que, supostamente, diz representar.
Portanto, foram cinco Bolsonaro na política. Hoje estão reduzidos a quatro. É muito difícil encontrar algo similar na história política brasileira, apesar de sermos um País marcado pelo filhotismo.
esmo assim, no último processo eleitoral Bolsonaro se apresentou como o candidato antissistema. Como? Foram 30 anos como parlamentar elegendo quatro membros da família? Um deles, Carlos, era, no momento de sua primeira eleição, menor de idade. Nenhum deles se destacou pelo estudo, pela reflexão. Pelo contrário, tiveram no pai um espelho — dos péssimos.
Reproduziram o desprezo pelos intelectuais e artistas, pelo conhecimento, externaram odes à ignorância, atacaram sistematicamente o estado democrático de direito, defenderam causas reacionárias e transformaram o irracionalismo em bandeira de luta. Da vida parlamentar — tal pai, tal filhos — nada ficou, a não ser o uso e abuso das benesses e o emprego de dezenas de familiares e coligados, alguns que nunca compareceram ao local de trabalho.
Mas, como nos contos de fadas, um dia a casa cai.
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