- Revista Época
Vinte e cinco anos depois, o economista e ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco disse que não mexeria em uma vírgula do Plano Real. Ele lamentou que o país esteja progredindo menos do que seria necessário para crescer e afirmou que a reforma da Previdência não é em si garantia de retomada do crescimento econômico do país.
O Plano Real era apenas um programa de combate à inflação?
Queríamos reescrever toda a Constituição de 1988. Se tivéssemos aprovado a reforma da Previdência, a quebra do monopólio... olha o tempo que estamos levando para consertar a Constituição, que, naquele momento, estava aberta à revisão, como previa a própria Carta de 88.
O que o senhor mudaria no Plano Real?
Não mudaria absolutamente nada. Só em 1997 é que a inflação chegou num ponto considerado bom. Era uma guerra de infantaria. Qualquer coisa que fizéssemos diferente, não chegaríamos com uma inflação de 5,22% àquele ano. Teríamos chegado apenas lá pelos anos 1999 ou 2000. Durante todos estes anos, resistimos à tentação. Não voltamos à hiperinflação. Mas ainda não viramos um atleta, porque temos medo de confrontar interesses estabelecidos. Daí por que não conseguimos revisar a Constituição, o que requer duas votações, na Câmara e no Senado.
Faz sentido manter meta de inflação?
Claro que sim. Quando adotamos o sistema de metas de inflação em 1999, ele já estava amadurecido. Se tivéssemos adotado antes dessa data, logo após a implantação do Plano Real, ririam da nossa cara. Ninguém tomaria uma meta para a inflação como uma âncora. Arminio Fraga (presidente do BC de 1999 a 2003) tem um grande mérito por ter se arriscado a adotar esse sistema no Brasil, numa época em que ele ainda era pouco conhecido por aqui. Ainda bem que tínhamos feito o trabalho de desintoxicar o país da cultura inflacionária anos antes.
O país tem 13,1 milhões de desempregados. Deveríamos também ter meta de desemprego?
Na prática ela já existe, só que as pessoas não sabem. A autoridade monetária brasileira não é o Banco Central (BC), é o Conselho Monetário Nacional (CMN). Quando o CMN diz ao BC, através de um decreto do presidente, que ele vai fazer metas para a inflação, os outros seis objetivos continuam valendo. Ou seja, sempre que o BC usa nas suas atas a expressão balanço dos riscos, ele está falando em inflação e atividade. Ou seja, a meta de desemprego está embutida nessa expressão.
A reforma da Previdência é a solução para todos os males?
A reforma da Previdência não é em si suficiente para garantir o crescimento. Para passar uma peça tão complexa e grande de texto constitucional, é necessário arregimentar forçar políticas.
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