Deputados e senadores questionaram motivos para a saída de Valeixo e analisaram a nova crise no governo federal em meio à pandemia
Renato Vasconcelos e João Ker | O Estado de S.Paulo
Deputados federais e senadores usaram as redes sociais na manhã desta sexta-feira, 24, para repercutir a exoneração de Maurício Valeixo da direção-geral da Polícia Federal. A confirmação da saída de Valeixo veio na publicação do Diário Oficial da União desta sexta, um dia após especulações sobre sua saída do cargo criarem uma crise no governo federal, inclusive com a ameaça de demissão do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.
Um dos parlamentares a criticar mais enfaticamente a saída do diretor-geral foi o senador Alessandro Vieira (CIDADANIA-SE). Pelo Twitter, o senador chamou a mudança no comando da PF de "vergonha". "Quem tem medo de uma polícia técnica e independente é bandido! Estamos acompanhando com atenção e repudiamos mais esse ataque à Polícia Federal, instituição que é motivo de orgulho para os brasileiros e pilar no necessário combate à corrupção. #VERGONHA", escreveu.
Alguns parlamentares da oposição também comentaram a exoneração. Deputado federal por São Paulo, Orlando Silva (PCdoB) analisou a situação como uma derrota para todos os envolvidos no caso, citando Bolsonaro, Moro e o próprio Valeixo.
"Se Bolsonaro não tivesse força para demitir um subordinado do ministério, estaria desmoralizado. Por outro lado, a demissão de Valeixo revela medos profundos do presidente, o que o fragiliza. Se Moro ficar diante do ocorrido, vira um farrapo humano. Todos perdem", disse Silva.
O líder da oposição no senado, Randolfe Rodrigues (REDE-AP), classificou a exoneração de Valeixo como um ataque à Polícia Federal. O senador também questionou o motivo para a saída do atual diretor. "Todo nosso repúdio à esse ataque de Bolsonaro à Polícia Federal, instituição tão importante p/ nosso país, fundamental no combate à corrupção! Por que Bolsonaro não quer uma PF independente? Quais os motivos? O que Bolsonaro está tentando esconder?."
O senador Humberto Costa (PT-PE) questionou a "briga pelo controle político" da PF em meio a pandemia do novo coronavírus. Em sua postagem, Costa compartilhou um vídeo de uma matéria exibida na edição de quinta-feira do Jornal Nacional, da TV Globo, que falava sobre a crise que a saída do diretor criou no Planalto. No vídeo compartilhado pelo senador, foram adicionados os dizeres: "Bolsonaro quer derrubar Moro para mexer na PF".
"Até onde vai a briga pelo controle político da Polícia Federal? E por que tanto interesse nisso? Qual o medo dos envolvidos nessa nova crise criada pelo governo no país em meio a uma pandemia?", escreveu o senador pernambucano.
Ex-aliada de Bolsonaro, a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) citou o atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem, cotado para assumir o comando da PF. "Alexandre Ramagem está cotado para assumir a PF no lugar de Valeixo. Ele foi indicado por Carlos Bolsonaro para comandar e ABIN (depois que plano da ABIN Paralela naufragou). Jair Bolsonaro quer um delegado submisso que tope não se “empenhar” nas investigações sobre seus filhos".
O contexto da exoneração
O aviso do presidente a Moro de que Valeixo seria demitido movimentou o Planalto nessa quinta-feira, 23. Em uma reunião pela manhã, Bolsonaro disse ao ministro que a mudança no comando da PF já estava definida. O ministro da Justiça, por sua vez, ameaçou deixar o governo se a ordem para a troca viesse “de cima para baixo”.
Nos bastidores do governo, a ameaça de Moro é foi encarada mais como uma pressão. Mesmo assim, a ala militar do governo entrou em ação para tentar contornar o novo desgaste entre o presidente e Moro. Os ministros-generais Braga Netto (Casa Civil) e Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) conversaram com o ministro da Justiça e Segurança pública e atuaram como bombeiros na crise.
Na prática, Valeixo já havia tratado com Moro, no início do ano, de sua saída do cargo de diretor-geral da Polícia Federal. Homem da confiança do ex-juiz da Lava Jato, o delegado demonstrou exaustão no cargo, reportando-se a um 2019 tenso no comando da PF. Moro tentava, porém, encontrar um nome de sua confiança para o posto, quando foi surpreendido, nessa quinta, pelo comunicado de Bolsonaro de que mudanças na corporação ocorreriam nos próximos dias.
A decisão do presidente de mudar o comando da PF ocorre dias depois de o Supremo Tribunal Federal (STF) autorizar a abertura de inquérito para investigar quem organizou e financiou manifestações em defesa da ditadura, no domingo. Bolsonaro participou de um ato com esse teor diante do QG do Exército, em Brasília. Ficou irritado depois que alguns de seus aliados entraram na mira da Polícia Federal.
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