Rodrigo Maia recebeu acenos de que a eventual aliança não significará seu enfraquecimento
Por Andrea Jubé, Marcelo Ribeiro e Raphael Di Cunto | Valor Econômico
BRASÍLIA - A recente ofensiva do presidente Jair Bolsonaro em relação aos partidos do “Centrão” pode atrapalhar as pretensões dos candidatos à presidência da Câmara em 2021 que se alinharem com o governo, tem avaliado, em conversas reservadas, o presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Nessas conversas, Maia tem sugerido que a maioria na Câmara resiste à aproximação direta com o governo, alvo de desconfiança no Legislativo.
Candidatos governistas tendem a ser derrotados na disputa sucessória na Câmara quando a relação entre Executivo e Legislativo está ruim. Os exemplos recentes são Arlindo Chinaglia (PT-SP), que teve o apoio da ex-presidente Dilma Rousseff em 2015, mas perdeu para Eduardo Cunha (ex-MDB-RJ); e Luiz Eduardo Greenhalg (PT-SP), que tinha o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e foi derrotado por Severino Cavalcanti (PP) em 2005.
Além disso, a aliança entre Bolsonaro e o Centrão pode ser colocada à prova se houver queda de popularidade. A história registra que o apoio desses partidos não esteve garantido em momentos-chave. Na gestão Dilma Rousseff, PL (ex-PR), PP e PSD desembarcaram em bloco do governo uma semana antes da votação do impeachment na Câmara, quando a petista mais precisou de sustentação política em seu mandato.
Rodrigo Maia disse a interlocutores que recebeu acenos de que a eventual aliança não significará que o Centrão abandonará o apoio à cúpula do Congresso. Esse grupo de partidos pretende manter aliado com ambos e fazer a interlocução entre Executivo e Legislativo.
No caso do PP, Bolsonaro reuniu-se com o presidente da sigla, senador Ciro Nogueira (PI), e com o líder na Câmara, Arthur Lira (AL). Mas o líder da maioria, Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), é visto como o candidato de Maia e não esteve no Palácio. Lira também é candidato à sucessão e trava briga interna com o correligionário. O primeiro vice-presidente da Câmara e presidente do Republicanos, Marcos Pereira (SP), é outro candidato que foi recebido por Bolsonaro.
Após semanas de embate público com o chefe do Executivo, Maia optou por um silêncio estratégico, seguindo a orientação de líderes do bloco de centro. Ele cancelou a participação em lives, bem como a rotineira entrevista coletiva antes das sessões, onde ele defendia os projetos e acabava fazendo críticas a Bolsonaro. Também mudou o perfil da pauta e, nesta semana, eliminou temas mais polêmicos, votando pautas de consenso e construídas com apoio do governo. Ontem, Bolsonaro se encontrou com o presidente do DEM, o prefeito de Salvador, ACM Neto, que em seguida se encontrou com Maia.
Líderes do Centrão afirmam, reservadamente, que a aproximação do Planalto se deu mediante aval de Maia e que ninguém do bloco pretende isolá-lo. Em contrapartida, o presidente da Câmara advertiu que Bolsonaro é reconhecido pelas promessas não cumpridas.
Mas assim como a palavra de Bolsonaro não é do “fio do bigode”, a dos partidos do Centrão também não seria de todo confiável. O exemplo mais recente e notório foi a conduta das legendas no processo de impeachment.
Uma fonte que acompanhou de perto o desembarque dos aliados ironiza que até uma ala do MDB do então vice-presidente Michel Temer, que sucedeu a petista, foi a última a entregar os cargos. Os então ministros emedebistas Eduardo Braga (Minas e Energia), Hélder Barbalho (Secretaria de Portos), Marcelo Castro (Saúde) e Kátia Abreu (Agricultura) devolveram as Pastas somente depois da votação do impeachment na Câmara. Kátia Abreu ficou ao lado de Dilma até o dia da posse da Temer, em 12 de maio.
Do bloco de Centro, o primeiro a desembarcar da base de Dilma foi o PR, renomeado PL, que ainda tem como principal liderança o ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado no Mensalão. No dia 11 de abril de 2016, o então deputado Maurício Quintella Lessa (PR-AL) anunciou que deixaria a liderança do partido para apoiar o afastamento de Dilma, e levaria com ele de 25 a 30 integrantes da bancada. Até então, a direção nacional da sigla acenava com apoio à petista. Mas Quintella assumiu a interlocução com o MDB e garantiu para si o cargo de ministro dos Transportes na futura gestão Michel Temer.
Os partidos do Centrão negociaram espaços no governo, simultaneamente, com Dilma e Temer. O movimento do então PR foi a senha para que o PP devolvesse os cargos. O partido ainda não havia assimilado a manobra de Dilma no primeiro ano após a reeleição, que retirou do partido o cobiçado Ministério das Cidades para entregar ao PSD, nomeando Gilberto Kassab titular da pasta. De prêmio de consolação, o PP foi contemplado com a pasta da Integração Regional.
No impeachment, o MDB acenou com generoso espaço ao PP: assegurou os ministérios da Agricultura, da Saúde e Cidades.
Um auxiliar de Dilma relembra até hoje que a presidente havia prometido o mesmo espaço para o PP, às vésperas do impeachment. Na ocasião, o principal interlocutor do partido com o governo era Aguinaldo Ribeiro, a quem ela chamava de “Aguinaldinho”. Às vésperas da votação na Câmara, Aguinaldo confidenciou a Dilma, em uma conversa sábado à tarde no Palácio da Alvorada, que não conseguiria impedir a deserção do PP. Ele explicou à presidente que as lideranças do partido nunca digeriram a retirada das Cidades da sigla.
Kassab acabou sendo o último a deixar o governo Dilma, dois dias antes da votação do impeachment. No governo Temer, o PSD não conquistou espaço privilegiado como as Cidades e ele tornou-se ministro da Ciência, Tecnologia e Comunicações. O cargo estratégico seria a presidência dos Correios, mas o partido acabou herdando uma estatal em processo de falência.
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