Começou a se desenhar no governo um embate entre o liberalismo pré-coronavírus e o intervencionismo no pós-pandemia
Por Claudia Safatle | Valor Econômico
BRASÍLIA - Começou a se desenhar no governo um embate entre o liberalismo pré-coronavírus e o intervencionismo no pós-pandemia. O sinal foi dado pela iniciativa dos ministros da Casa Civil, Walter Braga Netto, da Infraestrutura, Tarcísio Freitas, e do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Na quarta-feira, Braga e Tarcísio anunciaram o Plano Pró-Brasil, um programa de investimentos públicos de R$ 30 bilhões para os próximos três anos e outros R$ 250 bilhões em concessões para o setor privado.
A cifra dos investimentos públicos é irrelevante para influir na recuperação da atividade, mas o ato pode significar uma mudança de sinal da política econômica. E Paulo Guedes, ministro da Economia, sabe disso. Nos cálculos de técnicos oficiais, o país sairá da pandemia com uma elevação substancial da dívida bruta do governo. Se no início do ano as contas indicavam uma dívida em queda, equivalente a 75,8% do PIB para o exercício, agora os números batem em 85% do PIB. Sua trajetória para os próximos dez anos, se nada for feito, também será crescente.
Guedes argumentou nas discussões sobre o Pró-Brasil que foi com o intervencionismo estatal que o governo do PT quebrou o país. Ele comparou o Pró-Brasil ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), uma iniciativa do segundo governo Lula. Interlocutores de Guedes disseram que a elaboração do plano foi estimulada por Rogério Marinho, cuja intenção seria a de levar mais recursos para a sua Pasta. O ministro Paulo Guedes teria considerado a atitude de Marinho desleal.
Ninguém, na área econômica, discorda do aumento do gasto para mitigar os efeitos do coronavírus na economia. Defende-se, porém, que o crescimento seja protagonizado pelo setor privado e considera-se imprudência expandir mais a dívida bruta, que é o principal indicador de solvência do país.
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