- Folha de S. Paulo
Em teoria, faz sentido testar pessoas e permitir que aquelas que apresentem anticorpos voltem a trabalhar
Se há pessoas que já são imunes à Covid-19, seria loucura não utilizá-las na prestação de serviços essenciais e para começar a reerguer a economia. Não ignoro que o Sars-Cov-2 é um vírus novo, sobre o qual existem mais dúvidas do que certezas. Ainda não sabemos ao certo se uma infecção prévia confere imunidade nem, em caso afirmativo, por quanto tempo. Há também dúvidas quanto à confiabilidade dos testes para anticorpos disponíveis.
Muita pesquisa está sendo feita, e essas questões deverão ser respondidas em breve. Pelo que sabemos de outros coronaviridae, a melhor aposta é que os recuperados desenvolvam ao menos uma imunidade transitória. Também já teve início um processo de validação dos testes que deverá excluir os que não prestam.
Assim, se essas hipóteses se confirmarem, faz sentido, pelo menos em teoria, implementar os passaportes de imunidade, isto é, testar pessoas e permitir que aquelas que apresentem anticorpos (mais especificamente as imunoglobulinas do tipo G) voltem a trabalhar.
Usei a expressão “pelo menos em teoria” porque a pandemia gera um ambiente em que até a aplicação de medidas do mais puro bom senso produz efeitos colaterais. Os passaportes criariam duas classes de cidadãos. Os imunes estariam autorizados a trabalhar e a circular, estariam dispensados de usar máscaras e poderiam frequentar bares e restaurantes (à medida que fossem reabertos), enquanto os não imunes ainda teriam de viver os rigores do distanciamento social ou mesmo do confinamento.
Não é preciso bola de cristal para perceber que muita gente se veria tentada a infectar-se de propósito para passar para a classe dos privilegiados. Dependendo do tamanho desse movimento, poderíamos ver a curva dos contágios acentuar-se. Ainda acho que é insano manter em isolamento quem não precisa estar, mas é necessário reconhecer que o mundo se tornou um lugar ainda mais paradoxal.
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