- O Globo
Presidente da Câmara se reuniu brevemente com Bolsonaro nesta quinta-feira
Atender um convite para um café do presidente, tudo bem. Poderia até agradecer e enrolar, mas aceitar demonstra boa educação. E, depois, como se viu, foi uma emboscada difícil de escapar. Agora, sair e dar uma entrevista como se estivesse tudo normal é um pouco demais. Rodrigo Maia deixou o gabinete de Bolsonaro falando em construir os caminhos para o Brasil sair da crise. Falou em diálogo, de reformas e do Enem, como se o interlocutor que o recebeu momentos antes fosse dado a debater qualquer coisa.
Maia tem memória curtíssima. Esqueceu o apoio de Bolsonaro aos milicianos que pregam intervenção militar, fechamento do Supremo e do Congresso e a prisão dele e de seu colega Davi Alcolumbre. Disse que seu papel é o de construir pontes. Só se forem pontes para o abismo. Mesmo tendo sido objeto de uma armadilha, ele não podia ter facilitado tanto as coisas para Bolsonaro. Rodrigo Maia está perdendo o seu protagonismo e se sente de certa forma enfraquecido. Por isso falou ao sair do gabinete. Devia ter ficado calado, ou denunciado a emboscada.
E Bolsonaro jogou bem politicamente. Ele engessou o presidente da Câmara, que é o único com poder de aceitar e dar encaminhamento a qualquer pedido de impeachment do presidente da República. Se conseguir segurar Maia por mais uns dois meses, ganha tempo importante para tentar construir junto com o Centrão uma nova liderança parlamentar capaz de pulverizar o protagonismo de Rodrigo Maia e alicerçar uma candidatura para a sua substituição na presidência da Câmara.
Ingênuo, Maia perdeu pontos importantes. Bolsonaro ganhou essa.
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