- O Globo
Pior era o cheiro dos pés depois de vários dias presos em botas
Com saudades de beijos e abraços? Já foi pior. A historiadora Mary Del Priore conta que antigamente, e até os anos 1940, beijos na boca e abraços aconteciam mais na ficção do que na real, mais por motivos higiênicos do que morais. O desodorante só foi lançado em 1941. No século 19, na Europa, o banho era raro, contentavam-se em esfregar o corpo com colônia e criar uma mistura nauseante de cê-cê e perfume. Pior era o cheiro dos pés depois de um dia, de vários dias, presos em botas fechadas, sem banho.
Sem dentistas, sem escovas de dentes, sem pastas, sem flúor, nem os mais belos príncipes e princesas deixariam de exalar um bafo de onça quando abrissem suas lindas bocas de dentes cariados. Para beijá-las, seria preciso não respirar pelo nariz.
E as axilas, principalmente no verão do Hemisfério Norte, com as pessoas sempre cobertas por camadas de roupas pesadas, e pouco lavadas, suando o dia inteiro, e armazenando fedores que se acumulavam nos sovacos peludos, que ninguém depilava. As mulheres tinham as pernas cobertas por pelos achatados como teias de aranha negras sob as meias transparentes. Tudo conspirava contra o romantismo e o tesão. Talvez por isso dessem tanta importância a perfumes e ervas aromáticas desde a Antiguidade. E a afrodisíacos.
Imaginem as partes pudendas, as genitálias de homens e mulheres sem banho e os odores que exalavam, depois de usos e abusos, contrariando a máxima moderna “Lavou, tá novo”, que é mais no sentido moral do que higiênico.
Se é verdade o meme de sucesso na internet, “Bafo é pior do que peido e cê-cê”, na vida amorosa e sexual de antigamente beijos e abraços, e outras coisas mais íntimas, eram só para os fortes — de olfato, paladar e estômago — e não como foi romantizado e erotizado no cinema. Porque cinema não tem cheiro.
Uma das poucas exceções históricas foi a fartura de fontes, termas e banhos públicos na devassa Roma Imperial, e talvez não seja simples coincidência a limpeza e a higiene estimularem a devassidão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário