Por
ora, a coisa mais responsável a fazer é aprovar o auxílio emergencial
Por
interesse político-eleitoral, criou-se a falsa ideia de que seria possível
prorrogar o auxílio emergencial com responsabilidade fiscal e dentro
do teto de gastos.
Essa
possibilidade nunca existiu de verdade e a realidade virá à tona nas discussões
de Orçamento de 2021 que começam de fato na próxima semana.
Com
o fim das eleições, a história já é outra. O primeiro passo foi dado: o anúncio
da decisão de conceder o auxílio no manifesto assinado pelos novos
presidentes Rodrigo Pacheco (Senado)
e Arthur Lira (Câmara) e entregue ao presidente Jair
Bolsonaro. O documento chegou carimbando no Palácio do Planalto.
Com
o auxílio chegando pelas mãos do Congresso,
ninguém poderá dizer que o presidente quis ser populista. De quebra, Bolsonaro
ganha depois os bônus pela concessão do benefício da população. A mesma
estratégia já foi usada outras vezes com sucesso.
A urgência da pandemia não permite esperar a discussão difícil de corte de gastos que demora tempo. Também há a pressão para a acomodação de novas demandas políticas, acertadas durante a campanha eleitoral. Sem falar na necessidade mais do que evidente de ampliação de gastos para a área de saúde com a segunda onda da pandemia (ninguém está falando disso agora, mas esse tema vai aparecer) e os pedidos de recursos que surgem para a produção de novas vacinas no Brasil.
Nesse
momento de retomada das discussões da lista de prioridades de projetos no
Congresso, o ponto mais importante que precisa ser levado em consideração é que
a PEC emergencial, que muitos depositam esperança quase
salvadora ou fingem fazê-lo, perdeu o seu tempo. Ficou no passado.
A
função da PEC emergencial de garantir abertura fiscal para acomodar espaço no
Orçamento deste ano, de R$ 20 bilhões a R$ 30 bilhões, para um programa social
praticamente não existe mais.
Em
primeiro lugar, porque a essa altura qualquer medida de desindexação (que
implicava congelamento da correção de benefícios como aposentadorias) de
despesas do Orçamento para 2021 já não servem mais. O salário mínimo já está
dado.
Em
segundo lugar, porque os efeitos, por exemplo, da aprovação de gatilhos como
corte de jornada e de salários dos servidores, na melhor hipótese, precisam ser
regulamentados. Um processo que pode demorar meses e cuja economia diminui à
medida que o tempo passa. O mesmo vale para as mudanças nas regras do abono
salarial, que se aprovadas a contragosto do discurso do presidente,
só terão efeitos em 2022.
Por
último, ganhos com corte de despesas de pessoal já estão na conta do Orçamento
depois que a lei de socorro aos Estados e municípios foi aprovada com
congelamento de salários dos servidores públicos até o final deste ano.
A
emergência da PEC emergencial, portanto, perdeu sua função imediata: solucionar
um problema de curto prazo. Mesmo que a proposta inclua corte de renúncias e
isenções fiscais (algo ainda difícil de acontecer em 2021).
Olha
a dificuldade que tem sido para o presidente Bolsonaro reduzir o PIS/Cofins do diesel e minimizar o risco de greve! Para
reduzir o tributo, a solução dada foi a compensação com medidas que aumentam a
arrecadação com corte de benefícios fiscais. O presidente não aceitou até
agora.
A
compensação é uma exigência da Lei de Responsabilidade Fiscal que deixa sempre Bolsonaro
desgostoso com Guedes a ponto de ter acenado, no sábado, com a
possibilidade dessa regra ser alterada na discussão da reforma tributária. Se levada a cabo, a sua retirada será o
maior golpe feito até agora contra a LRF em seus quase 21 anos.
Se
quiser avançar de verdade na agenda econômica, o governo e seus aliados
políticos precisam mudar o disco arranhado da repetição em coro sobre a
necessidade da PEC emergencial. É melhor não perder tempo com isso. Vide o
fracasso do primeiro relatório da PEC emergencial do senador Márcio Bittar.
Guedes,
mesmo que não fale publicamente, já percebeu isso e tenta recolocar uma PEC
maior e mais reforçada em torno do Plano Mais Brasil, pensado em 2019 e que
depois foi dividido em três PECs para atender aos interesses políticos de dar
mais protagonismo ao Senado de Davi
Alcolumbre depois da aprovação da reforma da Previdência.
Mas
essa é uma PEC muito difícil e impopular para aprovar, com efeitos para o
futuro, além de 2022. O custo político de tentar agora será alto. Muitos acham
melhor apostar as fichas numa reforma administrativa mais forte. A reforma tributária,
por enquanto, é um sonho de uma noite de verão. O risco de não ter ajuste é
grande. Ela deve ficar para o próximo mandato.
Tudo isso com o Centrão com fama de “gastador” no comando total e a pauta de costume mais viva do que nunca concorrendo com a agenda econômica. Por ora, a coisa mais responsável a fazer é correr para aprovar o auxílio. Depois, escolher os alvos certos do que apostar. Entregar uma carta de intenções de projetos prioritários ao Congresso não basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário