“A ampla coalizão de centro-direita, formada
por Arthur Lira (PP), sinaliza o campo de alianças de Bolsonaro”
Será
dura a travessia da oposição até as eleições de 2022, principalmente para as
forças do chamado centro democrático. Isso ficou evidente após as vitórias de
Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no Senado, e Arthur Lira (PP-AL), na Câmara. No
primeiro caso, houve uma composição entre o candidato governista e os
principais partidos de oposição — PSDB, PT e PDT —, que mitigou a vitória de
Jair Bolsonaro e foi, sobretudo, uma conquista do DEM. O novo presidente do
Congresso passou a ser a principal referência do país para estabilidade
institucional. No segundo caso, a vitória do presidente da República foi
inequívoca e sua aproximação com o PP — partido do qual já fez parte — pode
levá-lo a escolher essa legenda para disputar a reeleição.
A volta de Bolsonaro ao PP faz todo sentido, uma vez que o projeto de construção de seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil, não foi adiante. O Partido Progressista, presidido pelo senador Ciro Nogueira (PI), é herdeiro direto da antiga Arena e do PDS, tendo incorporado os antigos Partido Democrata Cristão (PDC) e Partido Progressista, de quem herdou o nome atual. Entre os quadros da legenda estão veteranos personagens da política nacional: Paulo Maluf, Francisco Dornelles, Esperidião e Ângela Amin, Raimundo Colombo, Delfim Netto, Celso Russomano, Pratini de Moraes, Afonso Celso Pastore, Blairo Magri, Ricardo Barros e Aguinaldo Ribeiro, além dos atuais prefeitos de Rio Branco (AC)), Tião Bocolon, e João Pessoa (PB), Cícero Lucena. A filiação de Bolsonaro ao PP, caso se confirme, reorganizará sua base eleitoral a partir da centro-direita, retirando-o do isolamento em que estava ao protagonizar a formação de um partido de extrema-direita.
A
ampla coalizão de centro-direita formada por Arthur Lira na Câmara sinaliza o
campo de alianças de Bolsonaro na disputa eleitoral de 2022 e põe no telhado a
proposta de impeachment. A própria postura de Bolsonaro, ontem, ao comparecer
ao Congresso, para abertura dos trabalhos legislativos, revela um presidente
que já não se comporta como fera acuada. Ao mesmo tempo, os discursos de
Pacheco, principalmente, e até mesmo de Lira, apontam para um processo de muita
disputa e negociação para aprovação das reformas e certa dificuldade de
passagem da agenda reacionária do presidente da República, principalmente em
relação aos costumes e aos direitos humanos, porque a resistência será grande.
Alternativas
Quem
está se colocando como fiel da balança do processo político é o DEM, sob
comando de um político baiano de grande linhagem, o ex-prefeito de Salvador
(BA) ACM Neto, e a liderança parlamentar do senador Pacheco, uma espécie de
“neopesssedista” mineiro. O reposicionamento do DEM, que tem dois ministros
importantes no governo, Tereza Cristina, da Agricultura, e Onyx Lorenzoni, da
Cidadania, porém, representou o sacrifício da liderança do ex-presidente da
Câmara Rodrigo Maia (RJ), que foi atropelado por seus pares. Sabe-se que ACM
fez acordo com o PP e com Bolsonaro para a legenda manter o comando do Senado,
mas os termos são desconhecidos, ainda, em relação a outros interesses. Com
certeza, mira a ocupação de mais um ministério na Esplanada e o apoio a ACM Neto
na disputa pelo governo da Bahia, mas isso carece de futura comprovação pelos
fatos.
Estrategicamente,
a posição do DEM no processo político abre três grandes possibilidades: adesão
ao projeto de reeleição de Bolsonaro; lançamento de uma candidatura própria, no
caso o ex-ministro da Saúde Henrique Mandetta, muito ligado ao governador de
Goiás, Ronaldo Caiado; e o apoio à candidatura do governador de São Paulo, João
Doria (PSDB), em troca de compromisso com a reeleição do seu vice, Rodrigo
Garcia, a grande liderança paulista do DEM. É aí que a truculência com que Maia
foi abandonado pela cúpula do DEM cria problemas. Qual a garantia que Doria
teria, após a desincompatibilização, do apoio do DEM à sua candidatura a
presidente da República?
O
mesmo raciocínio vale para o apresentador Luciano Huck, sempre relacionado como
uma possível alternativa de candidatura própria pela cúpula do DEM. As
conversas com a legenda, após ACM Neto tirar o tapete de Rodrigo Maia, perderam
qualquer credibilidade. Em contrapartida, a crise no PSDB também se aprofunda.
O que houve na Câmara revela que o deputado Aécio Neves (MG) se tornou uma
eminência parda no Congresso, operando com desenvoltura, a partir da bancada
mineira, também no Senado. Sua queda de braço é com o governador paulista.
Não será fácil para ninguém a caminhada pelo centro do espectro político em direção à Presidência da República. Quem é da política sabe que isso nunca foi um passeio pelo Eixo Monumental. Ontem, a coordenador nacional da Rede, Pedro Ivo, desmentiu especulações de que estaria havendo articulações para a formação de um novo partido sob medida para o apresentador Luciano Huck, reunindo sua legenda, o Cidadania, o PV, o grupo de Rodrigo Maia e a ala do PSDB ligada ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Entretanto, não descartou o eventual apoio à candidatura. Disse que, primeiro, o apresentador precisa transitar para a vida pública, ou seja, a política propriamente dita. É o xis da questão: uma candidatura à Presidência não se improvisa, é uma complexa construção política.
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