- O Estado de S. Paulo
É
precoce apostar num vencedor sem saber quem vai estar na final
Em
pesquisa do Datafolha, realizada nos dias 20 e 21 de janeiro de 2021, foi perguntado
“quem estaria fazendo mais pelo Brasil no combate ao coronavírus: o presidente
Jair Bolsonaro ou o governador de São Paulo, João Doria”. Uma maior parcela,
46%, escolheu o governador Doria.
Mesmo
diante dos desgastes provenientes dos sucessivos erros na gerência da pandemia,
que levaram à morte mais de 456 mil vítimas da covid-19, 28% das pessoas ainda
atribuíram ao presidente Bolsonaro o papel mais relevante no combate da
pandemia.
Esses resultados são contraintuitivos, especialmente quando se observa que das 40 milhões de pessoas (19% da população) que já se vacinaram com a primeira dose ou das 20 milhões (9,5%) que se vacinaram com as duas doses, em torno de 65% receberam a vacina Coronavac, 33% a da AstraZeneca e 2% a da Pfizer.
Ou
seja, sem a tenacidade do governador Doria e da eficiência do Instituto
Butantan, apenas 6,6% da população teria sido vacinada até o momento com a
primeira dose e somente 3% com as duas doses.
Por
mais inusitado que possa parecer, em vez de almoçar com o governador Doria do
PSDB e ajudá-lo em uma campanha de nacionalização de seu nome, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (presidente de honra do PSDB) preferiu almoçar com o
ex-presidente Lula.
Além
de Doria, o PSDB possui pelo menos dois outros pré-candidatos à Presidência
para as eleições de 2022: o senador pelo Ceará, Tasso Jereissati, e o
governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Pelo que se sabe, FHC também
não convidou nenhum deles para almoçar nem os consultou sobre a pertinência do
convite recebido para encontrar Lula.
A suposta justificativa de FHC para o encontro com Lula seria a necessidade de juntar forças em prol da “frágil” e “indefesa” democracia brasileira, que estaria sob ameaça iminente de quebra institucional com Bolsonaro. Para derrotar Bolsonaro em 2022, FHC já anunciou que votaria no petista no segundo turno e que também se arrependia de não ter votado em Haddad em 2018.
Estudiosos
de governos populistas argumentam que, se a quebra da democracia não ocorrer
num primeiro mandato, certamente ocorrerá num segundo. Como Bolsonaro já deu
inúmeras demonstrações do seu pouco apreço pelos procedimentos institucionais e
valores democráticos, tudo se justificaria para evitar tal catástrofe. Afinal
de contas, como diria o sociólogo francês Raymond Aron, a política “não é
jamais uma luta entre o bem e o mal, mas entre o preferível contra o
detestável”.
Entretanto,
de acordo com a última pesquisa do Datafolha, Lula derrotaria facilmente
Bolsonaro por 55% a 32%. Bolsonaro também perderia no segundo turno para Ciro
Gomes (48% a 36%) e empataria tecnicamente com Doria (40% a 39%). Seu governo é
rejeitado por 45% da população; apenas 24% o aprovam. Para piorar, 54% dos
eleitores dizem que não votariam na sua reeleição de jeito nenhum. Isso ainda
sem levar em conta os efeitos negativos da CPI da Covid.
Diante
desses números desastrosos, fica evidente a fragilidade do presidente. É,
portanto, no mínimo precoce que o centro democrático busque alianças ou
sinalize apoio a alternativas supostamente “menos ruins” ou “menos preferíveis”
no momento em que Bolsonaro dá sinais de perda expressiva de competitividade
eleitoral.
Ceder
ao argumento de que o governo Bolsonaro, especialmente a sua reeleição,
representaria uma ameaça de ruptura democrática é pura chantagem contra uma
candidatura do centro democrático. E o que é pior, significa se fiar em um
salvador da pátria, com um contencioso moral para lá de questionável cujo
partido levou o País para a pior recessão econômica da história, como o único
capaz de derrotá-lo.
Não
só o PSDB, mas o centro democrático como um todo, precisam encarar seriamente o
desafio de encontrar uma alternativa competitiva que rejeite as duas opções
polares existentes e se coloque no jogo. Não é possível apostar num placar
antes de colocar o time em campo.
*Professor titular, FGV EBAPE, Rio de Janeiro
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