- Blog do Noblat / Metrópoles
Sem
partido há mais de um ano, o presidente da República procura uma legenda onde
ele e os filhos possam mandar em tudo
Pergunta
que tão cedo será respondida: se a pandemia da Covid-19 estivesse
em baixa, quantas pessoas a mais teriam comparecido às manifestações contra o governo do
presidente Jair Bolsonaro que aconteceram no último sábado em todas
as capitais do país, menos em Rio Branco, em Brasília e em mais de 100
municípios?
A
resposta só poderá ser dada depois vencida a terceira onda da doença que está
por vir, e do avanço da vacinação em massa que não será concluída tão cedo,
podendo arrastar-se pelos meses iniciais de 2022. Aos cochichos, e a salvo dos
jornalistas, ministros do governo, porém, reconhecem que elas superaram o que
se esperava.
A
pressa em avaliar seu tamanho fez os três filhos zero de Bolsonaro passarem
vergonha, mas eles não ligam para isso. Flávio Bolsonaro, senador, debochou dos manifestantes em Porto Velho,
onde esteve no fim de semana. Eduardo Bolsonaro, deputado, comentou um vídeo
editado para mostrar que havia pouca gente.
Carlos
Bolsonaro, vereador, comandante in pectore do gabinete do ódio que funciona no
Palácio do Planalto, fez o de sempre – defendeu o pai, que considera um
injustiçado e inocente dos crimes que lhe imputam. Generais da reserva falaram
em procurar um candidato alternativo a Bolsonaro para derrotar Lula.
Entre
os muitos problemas que tem pela frente para recuperar parte da popularidade
perdida e disputar a eleição do ano que vem com chances de ganhar, Bolsonaro
não pode demorar a resolver pelo menos um: o do partido ao qual se filiará. Os
principais partidos do Centrão o apoiam, mas não lhe abrem as portas.
Como abrir se em determinados Estados eles estarão coligados com partidos de esquerda? De resto, preferem gastar os recursos do Fundo Partidário com as eleições de governadores, deputados e senadores. Com bancadas maiores no Congresso, negociarão cargos com o presidente que for eleito, não lhes importa qual seja.
Bolsonaro
quer um partido no qual possa mandar. Quer controlar o caixa e selecionar os
nomes dos candidatos. Um partido, enfim, dele e dos seus filhos. Há mais de um
ano está sem nenhum.
Foi
repressão política o que manchou de sangue o centro do Recife
Dois
chefes de família ficaram parcialmente cegos. Os manifestantes contra Bolsonaro
foram atraídos para uma armadilha
Paulo
Câmara (PSB), governador de Pernambuco, não é o único que finge mandar na
Polícia Militar. E nem a polícia do seu Estado é a única que finge obedecer ao
governador. Mas foi no Recife, e somente lá, que a violência policial manchou o
ar pacífico das manifestações do último sábado contra o governo Bolsonaro.
Manchou
com sangue. Dois chefes de família, que apenas atravessavam a ponte Duarte
Coelho, foram atingidos por balas de borracha e perderam a visão de um dos
olhos. Uma vereadora do PT, que se limitava a dar explicações a um grupo de
policiais, recebeu no rosto uma borrifada de gás de pimenta, caindo no chão.
Há
vídeos à farta que mostram policiais atirando e jogando bombas de gás
lacrimogêneo em um grupo reduzido de manifestantes, a correrem em desespero de
um lado para o outro da ponte. Caíram na armadilha montada pela própria
polícia, que fechou as duas cabeceiras da ponte e fez tiro ao alvo.
Aquela
área do centro da cidade reúne a pouca distância o Palácio do Campo das
Princesas, sede do governo de Pernambuco; o centenário Teatro Santa Isabel; e
os prédios da Assembleia Legislativa do Estado e do Tribunal de Justiça. Do
palácio, em 1964, o então governador Miguel Arraes foi arrancado e preso.
Há
muito tempo que o coração do Recife não assistia a cenas tão vergonhosas de
repressão política, porque na ausência de qualquer ato de baderna, foi
repressão política o que ocorreu. Quem deu ordem para isso? Câmara diz que não
foi ele. A vice-governadora, do PC do B, diz que não foi ela. O malfeito é
sempre órfão.
O
comandante da operação policial foi afastado de suas funções por enquanto, bem
como alguns dos policiais que dispararam a ermo e atacaram os manifestantes com
cassetetes e protegidos por escudos. Abriu-se o rigoroso inquérito que se
anuncia nessas horas e que costuma dar em nada ou em pouca coisa.
Os pernambucanos orgulham-se de sua história marcada por revoluções libertárias, mesmo que elas não tenham alcançado plenamente seus objetivos. Orgulham-se também de episódios memoráveis que protagonizaram como o da expulsão, em 1654, dos holandeses. Seu orgulho foi ferido, e não pode ficar assim.
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