- Folha de S. Paulo
Senadores
governistas tentam desviar foco da CPI com cloroquina
Dois
fatos apurados pela CPI da
pandemia, ambos documentados, mostram, sozinhos, que o número de
brasileiros que comprovadamente morreram por culpa de Jair Bolsonaro durante a
pandemia já se aproxima de 100 mil. Como calculamos duas colunas atrás, 100 mil
mortos é mais do que a soma das vítimas de todos os assassinos brasileiros em
2019 e 2020.
A
primeira decisão foi a de não aceitar a oferta de vacinas da Pfizer. Na estimativa
do epidemiologista Pedro Hallal, utilizando parâmetros conservadores
(isto é, desfavoráveis à hipótese de que a decisão de Bolsonaro custou vidas),
14 mil brasileiros (5.000 no mínimo, 25 mil no máximo) teriam sido salvos se a
oferta da Pfizer tivesse sido aceita. Uma única decisão: 14 mil pessoas
morreram por ela.
A segunda decisão foi a de não aceitar a proposta do Instituto Butantan para entregar 45 milhões de vacinas da Coronavac ainda em 2020. A mesma conta feita pelo professor Hallal estimou em 81,5 mil (80,3 mil no mínimo, 82,7 mil no máximo) o número de brasileiros que não teriam morrido se a oferta do Butantã tivesse sido aceita. Outra estimativa, feita pelo jornal O Estado de S. Paulo, mostrou que as vacinas do Butantan teriam sido suficientes para vacinar todos os idosos brasileiros até fevereiro. Entre o meio de março e semana passada, morreram 89.772 idosos brasileiros.
Somando
as vítimas das duas decisões, já são, no mínimo, cerca de 90 mil mortes que
Jair Bolsonaro, comprovadamente, causou sozinho. Se algum defensor do governo
tiver cálculos diferentes, por favor, apresente-os.
Esses
90 mil são só o começo da história. Bolsonaro combateu desde o início a Coronavac,
que só existe no Brasil por iniciativa do Governo de São Paulo e é responsável
pela esmagadora maioria das vacinas aplicadas no país até agora. Além disso,
vacinação é só um dos pilares do combate à pandemia. Bolsonaro não investiu em
nenhum dos outros: nem isolamento social nem testagem e rastreamento.
Mesmo
depois de verem apresentadas todas as provas citadas acima, os senadores
Luis Carlos Heinze (PP-RS), Eduardo Girão (Podemos-CE) e Marcos
Rogério (DEM-RO) continuam fazendo o possível para esconder esses fatos na CPI
da pandemia.
Na
última semana, Girão tentou emplacar o boato de que a Coronavac é feita com
células de fetos abortados (não é). Marcos Rogério mentiu que outras
autoridades defenderam a cloroquina ao mesmo tempo que Bolsonaro, o que só
ocorreu no curto período antes de vários estudos médicos (não apenas o de
Manaus, Heinze) demonstrarem a ineficácia da cloroquina contra a Covid-19. .
Heinze
tenta desviar qualquer conversa para falar de cloroquina, que só é assunto no
Brasil. Em 2020, a cloroquina foi utilizada por Bolsonaro para mandar
trabalhadores para as ruas com risco de morte. Agora é utilizada por Heinze na
CPI para desviar o assunto, dos crimes enormes que a população entende
claramente, como boicote à vacinação, para crimes menores e mais difíceis de
serem entendidos, como o curandeirismo de cloroquina.
Se
o único crime de Bolsonaro na pandemia tivesse sido a defesa da cloroquina, se
tivesse feito todo o resto certo, o título desta coluna teria um número muito
menor. Heinze não quer que investiguemos todo o resto.
Eu
acho que isso é crime, senador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário