Legendas de esquerda, como PT e PSOL, acreditam que apoio às manifestações de sábado demonstrou queda sistêmica da popularidade do presidente
Guilherme
Caetano e Paulo Capelli / O Globo
SÃO
PAULO E BRASÍLIA — A adesão às manifestações contra o presidente Jair
Bolsonaro, no fim de semana, gerou uma onda de entusiasmo entre partidos de
esquerda — e de surpresa nos aliados do Palácio do Planalto. Líderes de
partidos como o PSOL defendem novos atos para fortalecer um eventual processo
de impeachment. PT e PDT querem uma análise mais cautelosa sobre os próximos
passos, principalmente diante do risco de uma terceira onda de contaminação
pela Covid-19.
Para
integrantes do PT e do PDT, os atos de anteontem foram um exemplo do que as
pesquisas eleitorais vêm demonstrando: a perda sistemática de apoio do
presidente.
Presidente
do PT, Gleisi Hoffmann acredita que os atos fortalecem tanto a luta pelo
impeachment, quanto servem como impulso às articulações da oposição de olho em
2022. Os próximos passos, diz ela, serão definidos ao longo da semana:
—
Nós vamos ter uma reunião com as frentes (Povo Sem Medo e Brasil Popular) para
fazer a avaliação dos atos e da luta a seguir.
Gleisi
nega que os atos sirvam como instrumento de campanha para o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Porém, no ato do Rio, o Lula recebeu até mesmo um boneco
inflável com uma faixa presidencial. Presente na manifestação na Avenida
Paulista, em São Paulo, a petista diz que as manifestações são contrárias a
Bolsonaro.
Carlos
Lupi, presidente do PDT, concorda com a necessidade de atos de rua, apesar da
pandemia. A expectativa, segundo ele, é que esse tipo de evento se tornará mais
frequente na medida em que a vacinação avance. Ele nega, no entanto, que esse
cenário fortaleça uma eventual polarização entre Lula e Bolsonaro.
—
É o que eles (bolsonaristas) querem — diz Lupi.
Guilherme
Boulos (PSOL) é francamente favorável à continuidade dos atos:
—
Existe um clima real para construir um impeachment, tanto pelos crimes já
cometidos quanto pela CPI no Senado. As ruas sinalizaram isso ontem, com
responsabilidade, usando máscaras. A gente precisa se opor ao negacionismo, mas
não pode esperar por 2022.
Porta-voz
da Coalizão Negra por Direitos, um dos organizadores dos atos de sábado,
Douglas Belchior defende um calendário permanente de mobilização.
—
Não tem queda de presidente sem povo na rua, nem no Brasil nem no mundo. Derrubar
o Bolsonaro só será possível se a rua continuar fervendo. O grande desafio dos
movimentos sociais agora é como avançar na mobilização — diz.
O
senador Humberto Costa (PT-PE), prega cautela:
— Foi necessária uma ação concreta, mas espero que pare por aí, porque especialistas vêm alertando para a possibilidade de uma terceira onda de infecções por Covid-19 — diz ele.
Aliados
de Bolsonaro aproveitaram a expressiva adesão aos atos para criticar os
opositores do presidente pelas aglomerações registradas em atos favoráveis ao
governo.
Apesar
das orientações dos organizadores, da distribuição de álcool em gel e do
majoritário uso de máscaras entre o público, o distanciamento social não foi
respeitado em diversos momentos no sábado.
A
deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), integrante da tropa de choque do
presidente na Câmara, diz ser preciso “muito mais que isso" para fazer um
impeachment avançar, mas se disse surpresa com o volume das ruas:
—
Como sempre a única cidade que mais teve gente foi em São Paulo, que realmente
me impressionou a quantidade. E agora, com isso, eles não podem mais acusar o
presidente ou qualquer um de nós de ‘aglomerar’, ou seja, acabou a narrativa de
‘genocida’, certo?
No
Recife, a ação da Polícia Militar para debelar a manifestação contra o
presidente, considerada violenta pelo próprio governador de Pernambuco Paulo
Câmara (PSB), será investigada pela Corregedoria da corporação. Duas pessoas,
que não participavam dos atos, foram atingidas por balas de borracha. De acordo
com o governo, sofreram danos permanentes na visão e serão indenizadas.
A investigação pretende descobrir a razão pela qual a PM agiu de forma violenta. O tema é visto como delicado por assessores de Câmara. Há simpatia de setores das forças policias a Jair Bolsonaro. Interlocutores do governo têm evitado atrelar a ação a alguma insubordinação da força policial.
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