Um dos males do
presidencialismo brasileiro é o culto à personalidade. Discutem-se os
candidatos, a busca por um pai dos pobres salvador da pátria em detrimento de
programas e propostas de governo.
Nas últimas campanhas eleitorais, o debate foi
prejudicado pela forte propaganda mistificadora promovida por marqueteiros
pagos a preço de ouro, sem que houvesse debate dos efetivos problemas nacionais
e elaboração de um projeto de país na complexa realidade da globalização e da
chamada revolução tecnológica 4.0.
Em 2014, a campanha de Dilma Rousseff, com o
marqueteiro João Santana à frente, usou de mentiras contra seus adversários, em
especial contra a então candidata da coligação PSB-PPS-Rede, Marina Silva, e
escondeu ao máximo a crise fiscal e econômica do país, que viria a se revelar
dramaticamente após desligadas as urnas.
As medidas de ajuste fiscal anunciadas na
sequência pelo ministro Joaquim Levy passaram a sensação de estelionato eleitoral
a parcelas significativas do eleitorado e foram o combustível para a
continuidade das manifestações de rua iniciadas em 2013.
O ápice da mistificação eleitoral aconteceu em
2018 com a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro utilizando-se desbragadamente de
mentiras nas redes sociais, de polarização ideológica e de uma pauta de
costumes, sem que fossem apresentadas soluções para os reais problemas que
afligem a maioria dos brasileiros.
Jair Bolsonaro usou o atentado que sofreu para
fugir dos debates. O seu assessor econômico, Paulo Guedes, limitou-se a recitar
a cartilha ideológica do ultra-liberalismo econômico de defesa do Estado
mínimo.
O economista mentia ao prometer acabar com o
déficit fiscal no primeiro ano de governo com a venda das estatais, proposta
sabidamente inexequível. Além do mais, sanear as contas públicas não é programa
de governo, mas obrigação de qualquer um que esteja à frente do Poder
Executivo.
Não se discutiram medidas concretas de como
retomar o crescimento econômico, condição necessária para tirar do desemprego
cerca de 14 milhões de compatriotas e garantir a todos a renda necessária a uma
vida digna. O resultado foi um pífio PIB de 1,1% no primeiro ano de governo.
A desastrosa gestão da pandemia do coronavírus por
Jair Bolsonaro, seu discurso e sua ação contras as vacinas, só têm prolongado a
crise sanitária e econômica, com resultados trágicos não só em número de mortos,
como também em falências, em especial do pequeno negócio, responsável pela
maioria do emprego e da renda dos brasileiros.
Peço aos meus amigos que não entrem numa guerra
de torcidas organizadas, no culto à personalidade e no oba-oba ideológico sem
que os verdadeiros problemas nacionais sejam debatidos. Que nós, eleitores, cobremos de todos os candidatos
propostas concretas para promover o desenvolvimento do país com prosperidade
para todos.
Como os pré-candidatos pretendem no governo
ampliar a taxa de investimentos público e privado, condição necessária para a
retomada do crescimento? Que reforma tributária pretendem promover para
garantir o financiamento da saúde, do transporte, da educação, da pesquisa, da
ciência, da tecnologia, da Previdência e dos programas assistenciais, entre
eles o de renda mínima?
A pré-campanha eleitoral já está nas ruas por
iniciativa do atual presidente da República. Desde já, os cidadãos devem ficar atentos
para que a eleição que definirá o futuro do país não seja transformada em mais
um espetáculo circense, para que, depois de fechadas as cortinas, os eleitores não
tenham de enfrentar mais uma ressaca de estelionato eleitoral.
* Cláudio de Oliveira é jornalista e cartunista e autor dos livros ERA UMA VEZ EM PRAGA – Um brasileiro na Revolução de Veludo e LÊNIN, MARTOV A REVOLUÇÃO RUSSA E O BRASIL, entre outros.
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