Bolsonaro
não negociou a Pfizer no tempo certo e continua boicotando a Coronavac. E daí?
Encurralado
por 430 mil mortes, a CPI da Covid, as condições da
economia, o recorde de desemprego, o derretimento da sua popularidade e a revelação do
“tratoraço” pelo Estadão, ufa!, o presidente Jair Bolsonaro demonstra
descontrole e atira contra seu novo alvo prioritário: o relator da CPI,
senador Renan Calheiros.
Sem defesa, ataca. Mas atacar Renan não o salva nem resolve nada.
Ao
entrar no plenário da CPI gritando contra Renan, o senador Flávio Bolsonaro se expôs e expôs
o desespero da família presidencial. No dia seguinte, o pai foi a Alagoas e
contrapôs o alagoano Renan a “pessoas do bem”: “Se Jesus teve um traidor, temos
um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso País”, disse o presidente,
enquanto circulava com Fernando Collor, que sofreu
impeachment, e Arthur Lira,
presidente da Câmara enrolado no Supremo.
Há ainda muitas frentes a explorar, mas, se a CPI acabasse hoje, já teria mostrado o quanto Bolsonaro e o governo erraram no combate à pandemia. Sejam aliados, adversários ou independentes, os depoentes, um a um, dão provas e confirmam que ele não só fala como trabalha contra todas as formas de conter o vírus e salvar vidas. E em nome de uma crença, a imunidade de rebanho (deixa todo mundo pegar, quem tiver de morrer que morra).
O
silêncio do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, foi estridente: só
confirmou que ele não podia falar, porque teria de admitir que discorda do
presidente em tudo. E as sucessivas mentiras do ex-secretário de
Comunicação Fábio Wajngarten deixam evidente
que a verdade iria contra ele, o governo e o presidente. Mentiu e quase foi
preso, mas entregou o principal: uma prova.
Trata-se
da carta, de 12/09/2020, em que a Pfizer internacional ofertava vacinas ao
presidente, ao vice e a ministros, advertindo que “a celeridade é (era)
crucial”, devido à “alta demanda de outros países e ao número limitado de doses
para 2020”. O governo deixou para lá. E, além disso, Wajngarten deixou no ar: o
ex-ministro Eduardo Pazuello se
referia também a ele quando falou em “pixulé”?
Ontem,
o representante da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, negou qualquer pedido
de propina (ou pixulé), mas confirmou nove tentativas frustradas de negociar
vacinas, a partir de agosto de 2020. Também contou que Wajngarten, o
vereador Carlos Bolsonaro e
o assessor internacional, Filipe Martins (o do sinal de
supremacistas brancos no Senado) participaram de pelo menos uma reunião com a
empresa. Isso reforça a existência de um “gabinete das sombras”, ou “das
trevas”, na pandemia.
Está
cada dia mais claro o papel de Bolsonaro para a situação do País. Já seria
inadmissível ele trabalhar contra uma vacina, mas ele trabalha contra duas.
Tanto desdenhou da Pfizer quanto boicotou, e ainda boicota, a Coronavac. Uma
poderia ter chegado a partir de dezembro e só pinga agora. A outra está sendo
suspensa, depois de Bolsonaro atacar a China mais uma vez.
Sem
explicar as vacinas, Bolsonaro continua sem usar máscara e promovendo
aglomerações e cloroquina, sua obsessão. Também não explica o “tratoraço”, os
R$3 bilhões do “orçamento secreto” só para os íntimos, o desmatamento da
Amazônia e todo o resto que o Brasil real está rouco de gritar.
O
novo Datafolha é um marco: Bolsonaro atingiu seu pior resultado desde o início
do governo (24% de aprovação e 45% de reprovação) e perde de 23% a 41% para o
ex-presidente Lula no primeiro turno e de 32% a 55% no segundo. Se já está
desesperado, imagina como ficará. Bater em Renan Calheiros não vai resolver.
Nem tentar derrubar a urna eletrônica. Talvez, a saída seria ele cair na real e
passar a governar. Mas pode ser tarde demais.
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