sexta-feira, 14 de maio de 2021

Bruno Boghossian - Vandalismo político

- Folha de S. Paulo

Com medo da CPI e com medo de perder a eleição, presidente investe na confusão

Jair Bolsonaro pagou caro pelo apoio do centrão, mas não conseguiu formar maioria na CPI da Covid para se defender. O governo levou um baile tão grande nas primeiras semanas de investigação que o presidente precisou despachar o filho até a comissão para tumultuar o ambiente e chamar o relator Renan Calheiros (MDB) de "vagabundo".

Essa é a arma mais usada pelo bolsonarismo quando se vê acuado: em vez de trabalhar, recorre ao vandalismo político. Com a negligência federal exposta de maneira indefensável, a única saída para o presidente é agitar suas bases e depredar as instituições que o incomodam.

Bolsonaro patrocinou a primeira tentativa de balbúrdia na CPI ao estimular o desvio do foco das investigações para estados e municípios. Agora, ele fabrica animosidade com os integrantes da comissão para desqualificar o relatório que deve incriminá-lo. "Temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso país", disse, em referência a Renan.

O objetivo do presidente não é apenas criar distrações momentâneas, mas provocar também confusões permanentes. A insistência em fazer circular suspeitas disparatadas de fraude nas urnas eletrônicas é um dos principais investimentos de longo prazo do bolsonarismo.

Há mais de um ano, Bolsonaro lançou suas primeiras acusações falsas de irregularidades sobre a eleição de 2018. Prometeu apresentar provas "brevemente", mas é claro que elas nunca apareceram. Mesmo assim, ele conseguiu inaugurar seu projeto para esculhambar previamente a próxima disputa presidencial.

Na última semana, Bolsonaro dobrou a aposta. Ele falou três vezes na instalação de um método de impressão de votos na urna eletrônica e repetiu outras duas vezes a ameaça de que "só Deus" pode tirá-lo da cadeira de presidente. Não é o que indicam as últimas pesquisas.

Bolsonaro tem medo da CPI e tem medo de ser derrotado na corrida à reeleição. Como não gosta de governar, só resta ao presidente estimular a desconfiança e a desordem.

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