Com
medo da CPI e com medo de perder a eleição, presidente investe na confusão
Jair
Bolsonaro pagou caro pelo apoio do centrão, mas não conseguiu formar maioria na
CPI da Covid para se defender. O governo levou um
baile tão grande nas primeiras semanas de investigação que o
presidente precisou despachar o filho até a comissão para tumultuar o ambiente
e chamar o relator Renan Calheiros (MDB) de "vagabundo".
Essa
é a arma mais usada pelo bolsonarismo quando se vê acuado: em vez de trabalhar,
recorre ao vandalismo político. Com a negligência federal exposta de maneira
indefensável, a única saída para o presidente é agitar suas bases e depredar as
instituições que o incomodam.
Bolsonaro patrocinou a primeira tentativa de balbúrdia na CPI ao estimular o desvio do foco das investigações para estados e municípios. Agora, ele fabrica animosidade com os integrantes da comissão para desqualificar o relatório que deve incriminá-lo. "Temos um vagabundo inquirindo pessoas de bem no nosso país", disse, em referência a Renan.
O
objetivo do presidente não é apenas criar distrações momentâneas, mas provocar
também confusões permanentes. A insistência em fazer circular suspeitas
disparatadas de fraude nas urnas eletrônicas é um dos principais investimentos
de longo prazo do bolsonarismo.
Há
mais de um ano, Bolsonaro lançou suas primeiras acusações falsas de
irregularidades sobre a eleição de 2018. Prometeu
apresentar provas "brevemente", mas é claro que elas nunca
apareceram. Mesmo assim, ele conseguiu inaugurar seu projeto para esculhambar
previamente a próxima disputa presidencial.
Na
última semana, Bolsonaro dobrou a aposta. Ele falou três vezes na instalação de
um método de impressão de votos na urna eletrônica e repetiu outras duas vezes
a ameaça de que "só Deus" pode tirá-lo da cadeira de
presidente. Não
é o que indicam as últimas pesquisas.
Bolsonaro tem medo da CPI e tem medo de ser derrotado na corrida à reeleição. Como não gosta de governar, só resta ao presidente estimular a desconfiança e a desordem.
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