O
governo Bolsonaro parece ter se animado com o entrevero entre Omar Aziz e Renan
Calheiros em razão do pedido de prisão, negado pelo presidente da CPI da Covid,
do ex-assessor Fabio Wajngarten. Não parece um caminho próspero apostar em
rachar o grupo de senadores que vem sendo chamado de G7. Ao menos, não agora.
Mais promissora é uma aposta no fator Aras de empastelamento da CPI. Mas ele
depende de outra equação, bastante complexa.
Na
configuração atual, a CPI tem sete votos seguros pela aprovação do relatório do
senador alagoano, agora mais “revigorado”, para usar o adjetivo da moda, para
responsabilizar Bolsonaro depois que o presidente resolveu declarar guerra
pública a ele, em sua base eleitoral.
O
PSD de Gilberto Kassab, que poderia ser o partido “pêndulo” no placar da CPI,
tem atuado bem fechado. Além de Aziz, que tem sido bastante duro com as
tentativas de manobra dos governistas, e eloquente ao apontar graves erros por
parte do governo, o outro senador do partido, Otto Alencar (BA), que é médico,
tem sido responsável por algumas das inquisições mais duras no colegiado.
Quebrar esse alinhamento do PSD com a oposição poderia até funcionar, mas fica difícil num cenário de desgaste de Bolsonaro nas pesquisas e de negociações avançadas de Kassab para dar outro destino ao partido nas urnas em 2022, que não o palanque reeleitoral do presidente.
Mantido
esse quadro, portanto, o relatório de Renan deverá ser aprovado pela maioria da
CPI. Os governistas, em menor número e muito titubeantes em termos de
estratégia, terão dificuldade para produzir um relatório paralelo e para
aprová-lo.
Uma
vez aprovado, o relatório tem como destino o Ministério Público Federal. E aqui
chegamos a Aras. Dificilmente a CPI concluirá seus trabalhos até julho, quando
Bolsonaro tem de indicar o substituto de Marco Aurélio Mello para o Supremo
Tribunal Federal.
Se
Aras tiver sido o escolhido, um novo procurador-geral da União terá de ser
nomeado por Bolsonaro. E será ele a analisar o relatório da CPI quando este
chegar à sua mesa.
Se,
no entanto, o atual procurador-geral tiver sido preterido pela segunda vez para
o STF, como existe grande possibilidade de que seja, procuradores avaliam que
sua lealdade a Bolsonaro terá vida mais curta: ele engolirá a derrota em seco
enquanto ainda depender do presidente para ser reconduzido para a função, de
novo à revelia da lista tríplice e tendo contra si forte oposição da carreira
dos procuradores.
Mas,
a partir de outubro, procuradores apostam que Aras pode dar um “grito de
independência”, até para ter uma segunda metade de mandato menos questionada
internamente e não deixar o posto carimbado como engavetador, a exemplo do que
ocorreu com Geraldo Brindeiro nos anos FHC.
Também
contaria para esse desembarque o paulatino agravamento da situação do
presidente, com obstáculos para além da própria CPI: a pororoca de escândalos
que deverá surgir com o veio do Orçamento secreto em várias pastas, a tragédia
no enfrentamento da pandemia e o reflexo que esses fatores, combinados à grave
crise econômica, produzirão na avaliação de Bolsonaro.
Tudo
depende do timing que Aras levará para analisar o relatório da CPI e oferecer
ou não denúncia a partir dele. Em 2006, Antonio Fernando Souza agiu pari
passu à CPI dos Correios e denunciou 40 pessoas pelo mensalão antes mesmo
de o relatório final da comissão mista ter sido aprovado.
Mas
não precisa ser assim, e Aras poderá segurar o caso para ter Bolsonaro em mãos
quando chegar a hora de o presidente reconduzi-lo, em setembro.
Por tudo isso, não basta analisar com lupa a dinâmica da CPI. A responsabilização efetiva de Bolsonaro, Pazuello e companhia depende de outros fatores bastante intrincados, que só ficarão mais claros à medida.
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