- O Globo
No momento em que as pesquisas de opinião
mostram Bolsonaro perdendo apoio e a CPI, dominada pela oposição, parece impor
dia após dia desgaste ao governo, é para lá de surpreendente o desempenho dos
bolsonaristas nas mídias sociais quando o assunto é CPI.
Se tomamos a semana que terminou (de
segunda a sexta-feira, do dia 24 ao 28 de maio) e filtrarmos pela palavra-chave
CPI, os bolsonaristas tiveram um desempenho muito superior ao da oposição.
No Facebook, entre os posts de páginas com a palavra-chave CPI, os bolsonaristas fizeram 80% dos compartilhamentos no dia 24, 78% no dia 25, 66% no dia 26, 73% no dia 27 e 61% no dia 28. No Twitter, se medirmos os volumes de retuítes com a palavra-chave CPI, os bolsonaristas fizeram 94% dos retuítes no dia 24, 88% no dia 25, 75% no dia 26, 63 % no dia 27 e 74% no dia 28. Em resumo, foi um 7 a 1 para o governo.
Quem acompanha a CPI pela imprensa ou por
veículos de esquerda pode ter ficado com a impressão de que o negacionismo do
governo vem sendo desmascarado e que, finalmente, se está evidenciando a falta
de empenho do Ministério da Saúde na compra de vacinas e a política
irresponsável de promoção do tratamento precoce.
Mas, na mídia governista, o que se vê é
outra coisa. Empresas produtoras de vacinas teriam tentado empurrar contratos
com cláusulas draconianas antes da aprovação da Anvisa, e senadores da oposição
estariam tentando proteger a corrupção dos governadores e fechando os olhos
para as evidências científicas favoráveis à cloroquina.
O ótimo desempenho governista nas redes não
significa que o governo tenha a opinião pública ao seu lado, já que os usuários
engajados nas mídias sociais são uma amostra muito particular e distorcida da
cidadania. Mas os grandes volumes de compartilhamentos no Facebook e de
retuítes no Twitter são sinais relevantes do andamento do debate público.
Eles indicam, antes de tudo, que os
apoiadores do governo são uma parcela significativa da população. Podem estar
diminuindo, como mostrou a última pesquisa Datafolha (em que a aprovação do
governo caiu de 30% em março para 24% em maio) —ou os insatisfeitos podem estar
crescendo, como mostrou pesquisa do PoderData (em que , do começo para o final
de maio, a desaprovação ao governo subiu de 55% para 59%) —, mas ainda são um
grupo expressivo.
Críticos do bolsonarismo costumam atribuir
esses bons desempenhos dos governistas nas redes ao uso de contas falsas e
robôs, mas as ferramentas de mensuração de robôs no Twitter não apontam uma
diferença significativa no uso de robôs nas hashtags levantadas pelo governo em
relação às levantadas pela oposição.
O alto volume de compartilhamentos e interações parece sugerir que os governistas estão mais empenhados em defender o governo do que os oposicionistas em atacá-lo. Isso não significa que esse seja o espírito da população, mas o alto nível de mobilização tem impacto no debate público e pode muito bem ter impacto eleitoral em 2022.
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