- O Globo
Em um rápido ping-pong,
como pensam bolsonaristas. Ou por que não pensam.
Ele tem 45 anos, é graduado numa
área da Medicina, com mestrado e doutorado. Bem-sucedido, tem casa própria e
carro importado. Casado, dois filhos. Ex-surfista, mas eventualmente ainda pega
uma “ondinha”. Gosta de ir ao Bracarense depois da praia. Aos domingos leva os
meninos para comer uma pizza na Capricciosa. Esse rápido ping-pong mostra como
pensam bolsonaristas de seu nível. Ou por que não pensam.
Por que você votou em Bolsonaro?
Tinha que dar um basta naquela
roubalheira do PT.
Você se arrependeu de votar em
Bolsonaro?
Não, por que haveria de me arrepender?
Por que o presidente prega contra a
democracia? Por que boicotou e boicota as vacinas, estimula e promove
aglomerações. Ou talvez por que cometeu outros 30 crimes de responsabilidade?
Que crimes? E que papo é este de
democracia? Democracia para roubar? Só tem corrupto no Congresso.
Você é favorável ao fechamento do
Congresso?
Não disse isso. Basta prender uns 200
que a coisa se ajeita. Esses caras são uns vampiros que só estão lá para sugar
o nosso sangue.
E depois? Faz-se nova eleição para
preencher as vagas abertas com as prisões?
Nada, com o que sobrar já dá para tocar a coisa. E ainda vamos economizar bilhões de reais com os gastos desses caras em mordomias e vantagens. Cada um tem uns 30 assessores. Precisa?
P - Falando em assessores, o que você
acha da denúncia de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro? E dos R$ 89
mil que Queiroz depositou na conta de dona Michelle?
Sacanagem com a mulher do presidente,
ela não tem nada com isso. Esta história de “rachadinha” todo mundo faz. Vocês
estão no pé do Flávio porque ele é filho do Bolsonaro.
Bolsonaro participou de inúmeras
manifestações onde pessoas pediam o fechamento do Supremo. Você acha isso
certo?
Aquilo lá é um antro de ladrões. Um
ministro do STF recebeu dois milhões de reais outro dia. Eu vi a mala. São uns
vagabundos.
Você viu uma mala com dois milhões para
um ministro do STF?
Vi.
Onde, quem é o ministro?
Ah, você já está querendo demais.
Então pode fechar o Supremo?
Aí, de novo, é só prender uma meia
dúzia que as coisas se ajustam.
E quem vai prender? Bolsonaro? A PF, o
Exército?
Bastam um cabo e um soldado, como disse
o Eduardo. Rarara.
Você é a favor de uma intervenção
militar?
Claro que não. Mas você não pode negar
que com os milicos as coisas funcionavam melhor.
Posso, sim. Discordo.
Você não conta, você é comunista.
Na época do PT me chamavam de fascista.
Nada, você é vermelho.
Você usa máscara?
Só para não pegar mal. Tem muita
patrulha na rua. Usa máscara quem quer. Máscara não serve para nada. Já tem
estudo comprovando isso que eu estou te falando.
Que estudos?
Cara, tá na internet. Em que mundo você
vive?
Bolsonaro fez tudo o que pôde para
atrapalhar a vacinação, atrasou a compra dos imunizantes…
Vacina é opção, não obrigação. O homem
distribuiu bilhões para governadores e prefeitos, que embolsaram a grana.
Você vai se vacinar?
Já me vacinei. Minha profissão me deu
prioridade. Você acha que sou bobo?
Como você se informa? Lê jornais e
sites de veículos profissionais? Assiste TV? Ou é só Instagram e WhatsApp?
Claro que não leio jornal. É só
baboseira, lixo. Na TV, só futebol. De resto, leio tudo o que cai na minha rede.
Me considero uma pessoa bem informada.
Então você sabe o que a CPI da Covid
está revelando, não é?
Cara, eu não tenho tempo para perder
com estas coisas. Isso é CPI política. O que eu sei é que os caras da oposição
não querem investigar os governadores corruptos, os filhos do Renan e do Jader.
Isso eu sei. De corrupção vocês não querem falar.
Problema
A possibilidade de Lula voltar ao poder
não assusta. O velho líder populista está vacinado, no sentido amplo da
palavra, e dificilmente cometerá os mesmos erros do passado, como querer calar
a imprensa e amordaçar o Ministério Público. O problema são os dirceus,
lindberghs e luizinhos que vêm junto no pacote.
O aluguel de Guedes
Em março do ano passado, Paulo Guedes
passou a morar na Granja do Torto. A residência da Presidência da República foi
oferecida ao ministro por Bolsonaro, para que ele pudesse passar o período de
isolamento social. Guedes tinha 70 anos e era do grupo de risco. Hoje, já
duplamente vacinado, o ministro mais rico do governo segue morando no
Torto. Bolsonaro, que não acredita em isolamento, máscara ou vacina, podia
pedir a casa de volta. E apresentar a conta. Será que Guedes pagou aluguel e a
manutenção da casa, além dos funcionários públicos ali lotados que passaram um
ano atendendo sua excelência? Se não, é bom separar um dinheirinho. O aluguel
de uma chácara em Brasília, com casa e anexos mobiliados, custa de R$ 4,5 mil e
R$ 10 mil mensais. Só neste quesito, Guedes deve à União entre R$ 54 mil e R$
112 mil.
Extra large
Foi um desastre a explicação de Eduardo
Paes sobre a não aplicação de multa em Jair Bolsonaro por infringir o decreto
de uso de máscara em locais públicos no Rio. Paes provou mais uma vez o que
todos já sabiam. É um puxa-saco extra large. Já tinha sido com Lula,
que detonou na CPI do mensalão e depois correu para o seu colo quando assumiu a
prefeitura. Foi bajulador tão GG que mandou uma carta para Dona Marisa pedindo
desculpas por ter levantado suspeitas contra o seu filho Lulinha. Dizia, nos
bastidores, que fazia isso pelo Rio, sugerindo ser falso o seu gesto. E é isto
o que ele está dizendo agora outra vez. Que se trata de uma estratégia para
tirar de Bolsonaro recursos para a cidade. Há quem acredite. Bolsonaro não está
nem aí, desde que o prefeito siga estendendo tapetes vermelhos para sua
excelência pisar com seu bat boot.
Era oba-oba
O escritor cubano Leonardo Padura,
autor de “O homem que amava os cachorros”, desembarcou no Rio em outubro de
2013 para um seminário. Ao chegar do lado de fora do Santos Dumont acendeu um
cigarro. Antes de embarcar no táxi, jogou a guimba no chão. Ato contínuo,
foi multado por um guarda municipal que fazia valer a lei municipal
3.273. Padura pagou R$ 157 e foi embora. Foi uma das últimas multas do programa
lixo zero tocado pelo secretário Rodrigo Bethlem, aquele que depois foi
flagrado e preso por corrupção na prefeitura do Rio. O programa não era para
valer e caiu no esquecimento depois de o próprio Paes ter sido multado por
jogar lixo na rua.
Apelidos merecidos
Vazio o debate sobre se é correto ou
errado chamar a secretária Mayra Pinheiro de “Capitã Cloroquina”. Há gente que
vê machismo no apelido. O aliado da capitã, senador Eduardo Girão, disse que
ela é mulher e mãe, e deveria ser tratada de acordo com sua condição. Discordo.
Mayra depôs como testemunha de um crime contra a humanidade. E, mais,
foi ela quem mandou Manaus usar cloroquina na falta de oxigênio. Mayra foi
candidata a senadora no Ceará em 2018. Se tivesse sido eleita, seria sua
excelência “Capitã Cloroquina”. Ela merece o apelido. Como o Bozo merece o seu.
Tropa do choquinho
Nem o PT conseguiu formar uma tropa de
choque tão pequena e despreparada como esta que Bolsonaro montou para se
defender na CPI. Dos quatro membros, um fica vermelho toda vez que se exalta um
pouquinho mais. Atropela o depoente e se enrola mais do que cobra. Outro,
que “não sabe patavina nenhuma” de medicina, só fala dos benefícios
extraordinários da cloroquina citando estudos que nunca apresenta. O terceiro
mente muito. Por fim, o que parece ser o líder da tropinha de choque, já ouviu
uma meia dúzia de desaforos do presidente da CPI em razão das barbaridades que
diz.
Motocídio
O respeitado jornal britânico “The
Guardian” classificou de “obsceno” o passeio do motoqueiro do Planalto na orla
do Rio. Foi gentil com o nosso negacionista número 1. Aquele motocídio foi para
lá de obsceno. Imagina o que o jornal escreveria se ouvisse a última do
presidente quando indagado sobre os quase meio milhão de brasileiros
mortos pela Covid. “A morte é uma coisa que todo mundo, o óbvio, todo
mundo vai passar por ela e não vai sentir”.
Cantinho do moreno
Durante a CPI do PC Farias de 1995, a presença de Tereza Collor na audiência de seu marido, Pedro, o irmão do então presidente Fernando Collor, causou um enorme furor. Todos os jornais falaram da sua eletrizante passagem pela Comissão, as TVs enalteceram sua beleza, a falecida “Playboy”anunciou que a chamaria para posar para uma capa. Tereza, que não pronunciou sequer uma palavra, só não ofuscou o marido porque este era o dono da bomba que detonou o mandato de Collor. Hoje, qualquer alusão à beleza feminina num ambiente desses seria razão para um excruciante vendaval de críticas. Por isso, não vou fazer qualquer menção à Cíntia Lucci, a economista que assistiu Dimas Covas em seu depoimento de quinta-feira à CPI da Pandemia.
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