- Blog do Noblat / Metrópoles
Governador de Pernambuco demite comandante
da Polícia Militar, mas deve explicações sobre o que ocorreu no Recife, e por
ordem de quem
Não foi o coronel Vanildo Maranhão, comandante da Polícia Militar de Pernambuco, que pediu demissão
do cargo depois que o Batalhão de Choque reprimiu a manifestação anti-bolsonarista do último
sábado, no Recife, deixando feridos e dois homens cegos.
Na verdade, foi o governador Paulo Câmara (PSB) que o demitiu.
Câmara mandou avisar ao coronel: ou ele pediria demissão ou seria demitido.
Para não passar vergonha maior, Maranhão demitiu-se, e seu substituto já foi
escolhido.
Temem-se atos de vandalismo durante
manifestações de rua, mas foram os policiais que
os protagonizaram ao obedecer a ordens que partiram ainda não se sabe de quem,
e dispararem balas de borracha contra pessoas cercadas na ponte Duarte Coelho.
Não se limitaram a isso, nem a jogar bombas
de gás lacrimogêneo. Surgiram novos vídeos que mostram policiais atirando
contra moradores de um prédio que a tudo assistiam pela janela. Até uma bomba
foi arremessada no telhado de um sobrado.
Demitir o comandante da Polícia Militar não basta. É preciso punir os policiais truculentos, descobrir o que se esconde por trás do que aconteceu e revelar as conclusões do inquérito que foi aberto. O distinto público tem o direito de saber tudo.
Acuado, Bolsonaro faz do futebol o antigo
circo dos romanos
Vai ter Copa América no Brasil e não se
discute mais isso, decreta o presidente. A não ser que a justiça proíba e arque
com o desgaste
Pão e circo. Se a fórmula de governar, inventada
pelos romanos há milênios, sustentou o maior império que o mundo já conheceu,
por que não levá-la em conta no momento em que a pandemia, e os sucessivos
desacertos, ameaçam as chances de reeleição de um presidente que virou alvo de
manifestações hostis de rua?
Se o pão sobe de preço, ofereça-se circo de
graça. É preciso desviar a atenção do distinto público das questões que de fato
importam. Bolsonaro pode não saber governar, mas de distração entende.
Portanto, apesar da terceira onda da Covid-19 que se agiganta, e dos quase 500
mil mortos, a Copa América será jogada aqui.
Pelos aeroportos entrarão 650 atletas,
dirigentes esportivos e membros oficiais das delegações. O número de
jornalistas ainda não foi calculado, mas não há limite. Pelas fronteiras,
grande parte delas desguarnecidas, os torcedores das seleções. Aumentará o
movimento nos cartões postais das cidades que sediarão os jogos.
O vírus lambe os beiços. O presidente Jair
Bolsonaro, também. Quem sabe (é o que deseja) o tempo fechado, sujeito a
relâmpagos e trovoadas, não lhe concede um refresco? Quem sabe, ao final da
Copa, ele não é convidado para levantar a taça do Brasil campeão? Campeão de um
torneio caça-níquel! Mas, e daí?
E daí que ainda morram os que tiverem de
morrer, ele não é coveiro; e daí que na vida real o Brasil da pandemia seja vice-campeão
do mundo em número de mortos; e daí que o país se ressinta da falta de vacinas
por que o governo não quis comprá-las a tempo? A taça é nossa. Com o
brasileiro, não há quem possa!
Tem mais. Seria de bom tom que o Supremo
Tribunal Federal, acionado por partidos, decidisse que não haverá Copa América
no Brasil em meio a mais grave crise sanitária dos últimos 100 anos. Caso
decida, que amargue o desgaste por isso. Bolsonaro dirá que tentou devolver a
alegria ao povo e a Justiça não deixou.
O jogo dele é esse.
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