Folha de S. Paulo
Só num país com instituições debilitadas é
que eles ficam por isso mesmo
Nos últimos dias, o motoqueiro
aloprado do Palácio do Planalto amplificou a pregação golpista
e as ofensas contra as instituições democráticas e figuras que as representam.
Os alvos preferenciais de sua incivilidade foram os senadores da CPI da Covid e
o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso.
Os detritos do linguajar presidencial são
inadmissíveis. Só num país com instituições debilitadas é que eles ficam por
isso mesmo. Dão em nada e somos obrigados a conviver com o vocabulário
coprolálico do delinquente, que nos intoxica socialmente. As agressões
ultrapassam a esfera pessoal. Ofendem a democracia, o Brasil e os brasileiros.
Bolsonaro tenta minar a credibilidade da urna eletrônica —sistema pelo qual ele e seus filhos vêm sendo eleitos e reeleitos há décadas— porque sua queda nas pesquisas de opinião é evidente. Não só por sua política genocida na pandemia, mas porque a CPI da Covid tocou num nervo exposto da construção de crenças do bolsonarismo: o suposto combate à corrupção.
O presidente não consegue responder às
denúncias do "vacinagate" nem à suspeita de prevaricação que o atinge
pessoalmente, a partir da conversa revelada pelo deputado Luís Miranda (DEM-DF)
que agora será investigada pela Polícia Federal.
Tudo indica que dois grandes esquemas
entraram em choque no Ministério da Saúde. Um, mais antigo e azeitado, liderado
por Ricardo Barros (PP-PR), do centrão. O outro, mais recente, era controlado
por gente do "lado podre" das Forças Armadas, como bem definiu o
presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), o que gerou reações despropositadas da
Defesa e dos comandantes militares.
Os chiliques presidenciais contra o voto
eletrônico têm zero de fundamentação. Só convencem seguidores fanáticos e
setores radicalizados das Forças Armadas e do sistema de segurança (polícias
militares e civis dos estados, PF, PRF). É com eles que pretende investir na
turbulência social e política até 2022.
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