Vota-se num corrupto para se livrar de um louco, ou em um louco para se livrar de um corrupto.
Transita-se
neste momento no Brasil por um ambiente de asilo machadiano, com “casa
verde” para internação dos loucos e “revoltas de canjicas”. Semana passada,
chegou-se ao ponto de querer tomar as terras centenárias de mais de 100
etnias indígenas. O tema continua em pauta. As ruas parecem legitimar o cenário
de desvarios.
Longe
de qualquer autocrítica, quando o Presidente da República agride os pares ou
vacila na tomada de decisões – arrouba-se a ir à frente ou caminhar para
trás - dá-se a impressão de que ele gera os elementos de que
precisam os doutores Barcamartes para interná-lo.
Os
cidadãos vão às ruas sem conseguir enxergar que o Produto Interno (PIB)
está caindo, a inflação e os juros subindo, as taxas de desemprego
aumentando e o descrédito do Brasil se espalhando pelo mundo. Os
problemas internos vem se acumulando há anos, não apenas por desvios históricos
de conduta, mas também, e sobretudo, pela falta de soluções e competência
para gerir a coisa pública.
Desapareceu
a tecnocracia de Estado. O País vem sendo governado por quem não consegue
distinguir o patrimônio e o interesse público. O governo Bolsonaro não fica
atrás. As equipes que tem assumido as rédeas do Poder tem
dificuldade de compreender os dilemas e as prioridades nacionais, bem como de
avaliar as repercussões dos desafios que vão se acumulando. O atual
Presidente, se sabe disso, procura contornar, ganhando tempo com divagações
no campo da política, e assim cavalga sobre os dilemas cotidianos da população.
As agressões e provocações repetidas insanas e sistematicamente são vistas pelo educador Rudolf Steiner, no seu estudo sobre o comportamentos humanos, como “bases anímicas e enigmáticas”, cuja culpa pode ser atribuída à flácida legislação eleitoral brasileira. Comportamentos estranhos podem desembocar mesmo em um estado de loucura e, pragmático, até mesmo em um impeachment. Seria um outro longo sofrimento para os brasileiros, pois o País para de vez. O da Dilma demorou seis meses.
O
Brasil precisa urgente de uma lanterna para iluminar o caminho, cheio de
zigue-zagues ou, pelo menos, de uma pinguela que resista a passagem do mandato
presidencial para outro, que se anuncia para 2022. Daqui até lá não
vai acontecer mais nada: não há soluções à vista, nem dinheiro. O Orçamento
público está estourado. Os maiores partidos no Congresso continuam ávidos. O
tempo restante vai ser consumido em discussões políticas estéreis nas ruas.
A
realidade mostra que os problemas estruturais do País arrastam-se aos
tropicões, ao se priorizar a retórica pequeno burguesa, fascista mesmo, –
discursos e acusações inúteis. A caminhada da estabilização, deixada por FHC,
foi toda invertida. As soluções dadas – o ganho fenomenal com o Plano Real
- estão se perdendo. Retrocederam em confusos desvios ideológicos,
políticas irracionais e gestores incompetentes.
De
tal forma estabeleceu-se o caos que nem as previsões dos economistas de
plantão nos bancos e as medidas provisórias parecem resolver mais. O ministro
da Fazenda dá a impressão de estar acuado pelos ruídos políticos emitidos de
todos os lados.
Ao
invés da preocupação com a redução da pobreza, eliminação do analfabetismo, do
aumento do PIB pela produtividade, da modernização das estruturas, o País andou
para trás. Num primeiro momento surfou nas exportações de commodities (produtos
básicos), para, em seguida, se afogar na coisa e no recurso público
Há
um clima de desqualificação do Estado e de desmoralização dos governantes. Todo
mundo vê e sente, mas as explicações e táticas de cada um vêm para confundir ainda
mais. Nunca para explicar. São intencionalmente confusas. Depois de longas
reflexões numa cama de hospital sob a ameaça do Covid, o jornalista Carlos
Brickmann descobriu que os cidadãos vão sendo conduzidos a um dilema
patético: escolher nas eleições de 2022 um corrupto para fugir de um
louco, ou votar em um louco para evitar um corrupto.
O
quadro que está aí, permite concluir que os problemas brasileiros continuarão
arrastados aos tropeções por, pelo menos, mais uma gestão de governo. Embora
algumas pessoas aparentam estar em condições de interromper essa caminhada das
irracionalidades, a mídia, incluindo as empresas de pesquisa de marketing,
tenta fazer crer que só existem essas duas opções eleitorais.
Esses
protagonistas que estão colocados aí como alternativas absolutas são pessoas
que perderam a credibilidade para chefiar o Estado Nacional: uma nação com 210
milhões de habitantes, 6º país mais populoso do mundo. Um, por corrupção e ou
outro pela debilidade mental. O engajamento e a imaturidade de jovens
jornalistas e o interesse das empresas de comunicação obnubilam a visão
conjuntural.
A
solução parece não vir das ruas. O Dr. Bacamarte concluiu que ele, ou eles, é
que não tinha(m) estabilidade emocional (is) suficiente(s) para manter a “casa
verde” e internou (ram) a si próprio(s).
*Jornalista
e professor
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