O Estado de S. Paulo
Oposições deram vexame no domingo e ainda
têm de engolir a ironia de Jair Bolsonaro
O grande vitorioso dos atos de protesto do
domingo, 12 de setembro, assim como do Dia da Pátria, 7 de setembro, foi o
mesmo: o presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro. Além de mobilizar as
suas tropas a seu favor, ele é beneficiado pela incapacidade de os comandos
adversários se unirem e atraírem as próprias tropas às ruas.
O grande troféu de Bolsonaro circula freneticamente nas redes sociais: as imagens comparando as manifestações a favor, gigantescas, e os atos contrários, minguados, desenxabidos. E ele não se fez de rogado, ao ironizar seus opositores como “dignos de dó”.
Doze partidos tentam articular uma frente ampla, um resgate do espírito das Diretas-Já, de 1984, para enfrentar o inimigo comum: Jair Bolsonaro, que traz com ele ameaça de golpe e à harmonia entre os Poderes e ao equilíbrio federativo. O efeito mais visível é na economia. O mais dramático é a miséria crescente.
Os doze partidos tentaram convencer MBL e
Vem Pra Rua de desistir do “Fora Lula, Fora Bolsonaro” para focar
exclusivamente no “Fora Bolsonaro” e, assim, trazer PT e PSOL para as ruas no
último domingo. Os movimentos até topavam, mas os dois partidos não. O acordo
ruiu. No Rio, por exemplo, bonecos de Lula e Bolsonaro desfilaram abraçados,
igualados como inimigos.
O resultado é um vexame, uma demonstração
de inconsequência e incompreensão do momento, que requer responsabilidade para
pôr o País em primeiro lugar, deixando, por ora, os interesses de cada um de
lado. Mas isso exige grandeza. Quando se olha só para o próprio umbigo, a
grandeza evapora.
MBL e Vem Pra Rua não entendem que, como a
extrema-direita aderiu a Bolsonaro, a única chance de encher praças, ruas e
avenidas é com o centro e em aliança com as esquerdas, até com o PT e as
bandeiras vermelhas. Sem elas, nada feito. As imagens confirmam.
Já o PT e o PSOL estão embevecidos com as
pesquisas e a crença de que o ex-presidente Lula já está eleito, sem considerar
que pesquisas são retratos do momento, o PT deixou muito rastro e ninguém ganha
de véspera. Logo, é hora de mirar o “inimigo comum”. Ou esquerda, centro,
direita civilizada e bolsonaristas arrependidos se unem, ou ninguém vai a lugar
nenhum.
O centro e a direita oposicionista precisam
do PT e da esquerda. A recíproca é verdadeira, pois o PT e a esquerda precisam
do centro e da direita oposicionista. Na teoria do trem, todo mundo pula dentro
e cada um vai descendo na sua estação. Slogan do Cidadania: “2022 fica para
depois”.
Não é pedir demais, mesmo diante do trauma
do PT com os movimentos que embalaram o impeachment de Dilma Rousseff, e mesmo
com a ojeriza que esses movimentos têm de PT, Lula, mensalão e petrolão. É
preciso engolir em seco, focar no que realmente interessa. Todos terão tempo e
espaço para brigar e se atracar mais adiante.
O fato é que Bolsonaro mostrou força no 7
de Setembro, recuou diante do estrago que fez nas Bolsas e no dólar e pediu
trégua aos caminhoneiros quando entendeu que eles não apenas ameaçavam o
abastecimento, a inflação e o PIB, mas o próprio governo dele. E, para coroar
tudo isso, se divertiu muito com o fiasco do domingo.
O presidente, porém, continua sendo alvo
da CPI da Covid, dos julgamentos dos
decretos das armas e do marco temporal no Supremo; dos recuos do PIB, do ritmo
tartaruga na recuperação de empregos e do ritmo coelho da inflação, dos juros,
das próprias crises.
Logo, a realidade e o ambiente são favoráveis às oposições, mas elas precisam fazer bom uso. Em política e eleições, não basta a realidade, é preciso compreendê-la e usá-la com estratégia e inteligência. Subestimar adversários não tem nenhuma inteligência. Ao contrário, é de uma burrice desconcertante.
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