O Estado de S. Paulo
O surpreendente avanço do
PIB no segundo trimestre do ano, de 0,9% sobre o trimestre anterior, não
dispensa festejos, como os proporcionados pelo governo, pela Bolsa e pelos
analistas de mercado. No entanto, o mais importante agora é olhar estrada à
frente.
As primeiras estimativas
para o desempenho do setor produtivo no segundo semestre são de relativa
estagnação. Fortes indicações dessa condição são a retração real da arrecadação
do governo federal em julho, de 4,20% na comparação anual, e o grande endividamento
das famílias, atenuado, mas não superado pelo Programa Desenrola.
Mas, se o comportamento da economia surpreendeu positivamente no segundo trimestre, pode também surpreender nos seguintes. Com base nos novos dados do IBGE, os técnicos do Ministério da Fazenda revisaram para cima as estimativas do PIB de 2023, de 2,0% para 2,5%, projeção que parece apressada.
O mais importante destaque
é o desempenho do consumo, especialmente o das famílias, que aumentou 0,9%; o
do governo, 0,7%; e as importações, outro indicador do consumo, saltaram 4,5%.
São dados consistentes com a redução do desemprego, que vem se acentuando.
A contrapartida negativa do
maior consumo é o comportamento insatisfatório do investimento, cujo nome
técnico é Formação Bruta de Capital Fixo (0,1%). Como participação no PIB, a
poupança caiu de 18,4% para 16,9%; e o investimento, de 18,3% para 17,2%,
níveis mais baixos desde 2020. Esses números comprometem o futuro. Para que o
País cresça cerca de 3,5% ao ano, é necessário que separe 22% do PIB para o
investimento. Isso é como acontece em qualquer horta doméstica: quem semeia
menos colhe menos.
Na ótica da produção,
destaca-se o crescimento dos transportes (0,9%), em contraste com o ainda
medíocre comportamento da indústria de transformação (0,3%) e do comércio
(0,1%). Isso se explica pelo robusto escoamento das safras agrícolas recordes e
pela força cada vez maior das entregas de mercadorias compradas via e-commerce.
A queda de 0,9% do setor
agropecuário, depois de um esticão de 21% no primeiro trimestre do ano, é um
dado sazonal, uma vez que a maior colheita de grãos acontece ao longo do
primeiro trimestre.
O salto do setor extrativo,
de 1,8%, tem a ver com o crescimento da produção de petróleo e de minério de
ferro, resultado que poderá se acentuar nos trimestres seguintes.
Quanto ao futuro imediato,
é preciso ver também como se comportará a economia mundial, principalmente as
dos maiores destinatários das exportações do Brasil, Estados Unidos e China.
Nenhum comentário:
Postar um comentário