Folha de S. Paulo
Mudanças no Senado e na Câmara causarão dores
de cabeça ao presidente
A eleição do novo comando do Congresso
marcará uma nova fase do governo Lula (PT). Há quem aposte
que as dores de cabeça com o Senado farão
os petistas lembrarem, saudosos, dos tempos de desavença com Arthur Lira.
Apesar do jeito zombeteiro, Davi Alcolumbre (União-AP) é considerado duro de negociar e com apetite por cargos —do funcionário que serve o café ao presidente de estatal. É famoso por entrar "em modo avião", inacessível por telefone, quando não quer falar com alguém. Não importa se é um colega senador, um ministro ou o chefe de outro Poder.
Mesmo devedor de Bolsonaro, o senador travou
por meses a votação de André Mendonça para o Supremo Tribunal Federal
por preferir outro nome. Já sob Lula, agências reguladoras estão
acéfalas pelo mesmo motivo.
Alcolumbre voltará à presidência com mais
poder, eleito por quase unanimidade, numa aliança com o governo, mas também com
a oposição. Se no primeiro biênio o PL ficou isolado, ao disputar contra Rodrigo
Pacheco (PSD-MG),
a adesão agora recomenda cautela à esquerda.
O tamanho do estrago pode ser antecipado pelo
que o PL fez na Câmara quando teve espaço. Na Comissão de Fiscalização,
convocou 14 ministros em um ano. Na de Constituição e Justiça, direcionou o
debate à pauta conservadora —aborto,
retaliação ao Judiciário, voto impresso.
A oposição pediu a Alcolumbre apoio para suas
pautas e terá. O governo pediu ajuda para sobreviver e votar a pauta econômica.
Também terá.
Há, porém, um cálculo político que talvez
faça a balança pender à direita. Ele quer se reeleger em 2027, quando o PL deve
ter ainda mais peso no Senado. Logo, fará gestos para manter esse eleitor
satisfeito.
Na Câmara, o risco certo é o PL na
vice-presidência. Altineu Côrtes (RJ) faz a ponte do "Centrão do PL"
com o Palácio, mas não deixa de ser oposição e presidirá as sessões do
Congresso para votar vetos presidenciais e o Orçamento se Alcolumbre escalá-lo.
Em busca de freios e contrapesos, o Palácio
endossou Hugo
Motta (Republicanos-PB)
na Câmara. Petistas defendem que ele é aberto ao diálogo, que o pai votou em
Lula e que negociará em melhores termos. A ver.
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