O Estado de S. Paulo
Posse de Trump com -12 graus, relações geladas com Lula e Brasil numa ‘escolha de Sofia’
Quem assume a presidência dos Estados Unidos
amanhã não é uma pessoa, um líder, Donald Trump, mas um projeto de poder
internacional em aliança com os líderes emergentes da direita em todos os
continentes, massificado mundo afora pelas principais plataformas da internet e
com o uso de aumento de tarifas como chantagem para reduzir a resistência e
aumentar a adesão.
Essa é a percepção de quem acompanha de perto
a política externa e tem foco na ainda maior potência política, econômica e
bélica. Aliás, é justamente pelo temor, ou constatação, de que esse poder não
dura para sempre e está cada vez ameaçado, sobretudo pela China, que Donald
Trump traçou sua estratégia na geopolítica internacional. Sua ação pode ser
vista tanto como ataque quanto como defesa.
Apesar das críticas, da impopularidade e da derrota dos democratas, Joe Biden deixa a presidência com um crescimento maior do que o previsto, a inflação dentro da meta e o menor desemprego em décadas, enquanto a China, apesar de manter altos índices de desenvolvimento, surpreendeu para menos. Mas a guerra não está nos números.
Trump volta com uma força inquestionável, um
gabinete duro e leal, adversários sem líderes e aliados que dominam as
principais armas nas guerras modernas: Elon Musk, do X, Mark
Zuckerberg, da Meta, dona da Facebook,
Instagram e WhatsApp, e procura-se um comprador para o Tik Tok. E ele choca o
mundo com suas ameaças de dominação: a anexação do Canal do Panamá, da
Groenlândia e do Canadá inteiro. Parece loucura? Pois é tática.
Trump convidou líderes da direita e o
argentino Javier Milei, carimbado como seu principal aliado na América do Sul,
talvez em toda a América Latina. Para o Brasil, o convite não foi para o
presidente, mas para o ex-presidente. Sem passaporte, Jair Bolsonaro mandou
Michelle. Também estarão lá deputados e senadores, incluindo Eduardo Bolsonaro
e aliados de Lula, com um pedido para os EUA: a suspensão do visto do Xandão.
Lula marcou a primeira reunião ministerial do
ano justamente para amanhã. Resta saber se para ignorar a posse de Trump, ou
para deixar em segundo plano na mídia a tensão, as broncas e os chororôs da
reunião. Lula só cumprimentou Trump pelo X e, além de estar na presidência dos
Brics neste ano, fará nova viagem a Pequim em maio. Os Brics se opõem ao dólar
como moeda internacional e alavancam o protagonismo da China. Lula mal disfarça
que tem lado e o Brasil está numa típica “escolha de Sofia”. Quanto menos se
meter na disputa de gigantes, melhor para os interesses brasileiros.
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