Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico
Governador reforça apoio e declarações de
lealdade a Bolsonaro
Cotado como possível candidato da direita à
Presidência em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas
(Republicanos), intensificou neste ano as declarações de lealdade ao
ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os gestos para atrair bolsonaristas. Além
da participação assídua em atos pró-Bolsonaro, Tarcísio tem usado suas redes
sociais para defender a proposta de anistia ao ex-presidente e endossar as
críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Judiciário
brasileiro. Nas redes sociais do governador, o número de publicações com
elogios a Bolsonaro até essa quarta-feira (9) é cinco vezes maior do que as
feitas em 2023 e mais do que o dobro de 2024, nesse mesmo período, de janeiro
até 9 de julho.
Tarcísio, no entanto, não se manifestou até o fechamento desta edição sobre o anúncio de Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil.
Nesta semana, o governador fez um novo aceno
à base bolsonarista, ao publicar em suas redes uma crítica indireta ao Supremo
Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tarcísio endossou a
postagem de Trump, em defesa de Bolsonaro, e disse que o ex-presidente deve ser
julgado “somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”. A publicação foi
vista por aliados do governador como um recado ao Judiciário, que tornou
Bolsonaro inelegível até 2030 e poderá condená-lo à prisão. O ex-presidente é
réu no STF, acusado de crimes contra a democracia.
Até então, o governador evitava fazer
críticas, ainda que indiretas, ao Judiciário, e buscava o diálogo com ministros
do STF, como Alexandre de Moraes.
O recado ao STF está em sintonia com a
cobrança feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente,
de que o candidato da direita que tiver o apoio de Bolsonaro terá que se
comprometer com um indulto e também com um possível confronto com a Corte, para
garantir o perdão da pena ao ex-presidente.
As páginas de Tarcísio no Instagram, Facebook
e X registram a ênfase que o governador tem dado à defesa de Bolsonaro. Até a
noite de quarta-feira (9), foram 35 publicações elogiosas ao ex-presidente,
entre mensagens, fotos e vídeos, segundo levantamento do Valor. A quantidade supera o
total de postagens semelhantes em 2023 (11) e em 2024, quando foram publicadas
24 mensagens com esse teor. Entre janeiro a 9 de julho, foram seis mensagens
pró-Bolsonaro em 2023 e 12 em 2024.
O destaque do apoio de Tarcísio ao
ex-presidente coincide com o período em que a Primeira Turma do STF tornou
Bolsonaro réu, em março, e ouviu o depoimento dele, em junho.
Entre aliados do governador, a avaliação é
que esses gestos o ajudariam a ser ungido como o candidato de Bolsonaro em 2026
e afastar rumores de que articula uma candidatura ao Planalto sem o aval do
ex-presidente. O Valor procurou
o governo paulista para falar sobre as postagens nas redes sociais, mas não
recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Empresários e lideranças do Centrão têm
pressionado Bolsonaro a desistir de se candidatar e a definir Tarcísio como o
nome da direita para disputar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
(PT). O governador, em público, repete que seu objetivo é concorrer à reeleição
em São Paulo e que Bolsonaro é o seu candidato.
Em outro aceno a bolsonaristas, Tarcísio
reforçou também o discurso antipetista e anti-Lula no palanque e nas redes
sociais. No ato da avenida Paulista, no fim de junho, o governador puxou coro
pelo “Fora PT”, em uma fala marcada pelo tom eleitoral. Crítica semelhante foi
publicada nas redes.
Para aliados do governador, esses gestos o
ajudariam a ser ungido como o candidato do ex-presidente
Além de Bolsonaro, Tarcísio divulgou fotos
neste ano ao lado do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do
deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), com grande popularidade nas redes
sociais. Replicou ainda dois vídeos de Nikolas com críticas ao governo Lula e
ao PT.
Com 5,2 milhões de seguidores no Instagram,
3,1 milhões no X, e 930 mil no Facebook, Tarcísio aumentou também neste ano as
postagens para exibir sua ligação com os evangélicos e para mostrar seu lado
“família”, com fotos e vídeos ao lado da esposa. Já são 37 publicações com
essas características, ante 19 em todo ano de 2023 e 25 no ano passado.
Nas postagens sobre a gestão, a segurança é
um dos temas mais frequentes, além da defesa de uma agenda liberal, com
concessões e privatizações. No ano pré-eleitoral, Tarcísio tem buscado também
reforçar marcas na área social, com o programa “SuperAção”, visto como uma
espécie de “Bolsa Família” da gestão paulista e ações para gerar emprego, em
contraponto a bandeiras históricas do PT.
Lula, ministros e petistas já tratam Tarcísio
como potencial candidato à Presidência. Em entrevista ao podcast “Mano a Mano”,
o presidente citou o governador como presidenciável, além dos governadores de
Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD).
Na segunda-feira, o ministro da Casa Civil,
Rui Costa, projetou o governador paulista como eventual candidato e centrou
suas críticas a ele, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. “Lula
vai enfrentar no ano que vem 50 tons de Bolsonaro. São variações do
bolsonarismo”, disse, fazendo comparações entre Tarcísio e Bolsonaro. Nos
debates feitos pelo PT no processo de eleição interna para o novo presidente
nacional do partido, o governador também foi citado com frequência como o
provável adversário de Lula.
Há mudanças também na postura de Tarcísio em
relação ao governo federal. No mês passado, o governador não quis dividir
palanque com Lula na Favela do Moinho, em São Paulo, apesar de os dois governos
terem se unido para apresentar uma solução habitacional para retirar os
moradores da região e ceder o terreno onde vive a comunidade, que é da União,
para a gestão estadual. Até então, os dois procuraram mostrar uma relação
republicana, apesar de diferenças políticas e ideológicas.
Nos bastidores, aliados de Tarcísio afirmam
que ele será candidato somente se tiver o aval do ex-presidente, com a garantia
de que Bolsonaro não apoiará outro nome. Para isso, bolsonaristas defendem uma
chapa de Tarcísio com um integrante da família Bolsonaro - a ex-primeira-dama
Michelle ou Eduardo. Outra ponderação feita por interlocutores do governador é
o cenário eleitoral de 2026 e as chances de vitória de um opositor de Lula.
Tarcísio só concorrerá à Presidência se o Planalto não conseguir reverter a atual
crise de popularidade e questões econômicas.
A decisão, repetem aliados, não deve ser
tomada neste ano, mesmo com uma eventual prisão de Bolsonaro. Tarcísio tem até
o início de abril para se desincompatibilizar do governo paulista se quiser
disputar a Presidência, mas a eventual candidatura será definida já nas
primeiras semanas de 2026, para que o governador possa costurar sua sucessão no
Estado e articular um nome de consenso da direita.
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