quinta-feira, 10 de julho de 2025

Tarcísio intensifica apoio a Bolsonaro e endossa pauta de anistia e críticas ao STF

Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico

Governador reforça apoio e declarações de lealdade a Bolsonaro

Cotado como possível candidato da direita à Presidência em 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), intensificou neste ano as declarações de lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e os gestos para atrair bolsonaristas. Além da participação assídua em atos pró-Bolsonaro, Tarcísio tem usado suas redes sociais para defender a proposta de anistia ao ex-presidente e endossar as críticas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Judiciário brasileiro. Nas redes sociais do governador, o número de publicações com elogios a Bolsonaro até essa quarta-feira (9) é cinco vezes maior do que as feitas em 2023 e mais do que o dobro de 2024, nesse mesmo período, de janeiro até 9 de julho.

Tarcísio, no entanto, não se manifestou até o fechamento desta edição sobre o anúncio de Trump de aplicar uma tarifa de 50% sobre os produtos importados do Brasil.

Nesta semana, o governador fez um novo aceno à base bolsonarista, ao publicar em suas redes uma crítica indireta ao Supremo Tribunal Federal e ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Tarcísio endossou a postagem de Trump, em defesa de Bolsonaro, e disse que o ex-presidente deve ser julgado “somente pelo povo brasileiro, durante as eleições”. A publicação foi vista por aliados do governador como um recado ao Judiciário, que tornou Bolsonaro inelegível até 2030 e poderá condená-lo à prisão. O ex-presidente é réu no STF, acusado de crimes contra a democracia.

Até então, o governador evitava fazer críticas, ainda que indiretas, ao Judiciário, e buscava o diálogo com ministros do STF, como Alexandre de Moraes.

O recado ao STF está em sintonia com a cobrança feita pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do ex-presidente, de que o candidato da direita que tiver o apoio de Bolsonaro terá que se comprometer com um indulto e também com um possível confronto com a Corte, para garantir o perdão da pena ao ex-presidente.

As páginas de Tarcísio no Instagram, Facebook e X registram a ênfase que o governador tem dado à defesa de Bolsonaro. Até a noite de quarta-feira (9), foram 35 publicações elogiosas ao ex-presidente, entre mensagens, fotos e vídeos, segundo levantamento do Valor. A quantidade supera o total de postagens semelhantes em 2023 (11) e em 2024, quando foram publicadas 24 mensagens com esse teor. Entre janeiro a 9 de julho, foram seis mensagens pró-Bolsonaro em 2023 e 12 em 2024.

O destaque do apoio de Tarcísio ao ex-presidente coincide com o período em que a Primeira Turma do STF tornou Bolsonaro réu, em março, e ouviu o depoimento dele, em junho.

Entre aliados do governador, a avaliação é que esses gestos o ajudariam a ser ungido como o candidato de Bolsonaro em 2026 e afastar rumores de que articula uma candidatura ao Planalto sem o aval do ex-presidente. O Valor procurou o governo paulista para falar sobre as postagens nas redes sociais, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

Empresários e lideranças do Centrão têm pressionado Bolsonaro a desistir de se candidatar e a definir Tarcísio como o nome da direita para disputar contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O governador, em público, repete que seu objetivo é concorrer à reeleição em São Paulo e que Bolsonaro é o seu candidato.

Em outro aceno a bolsonaristas, Tarcísio reforçou também o discurso antipetista e anti-Lula no palanque e nas redes sociais. No ato da avenida Paulista, no fim de junho, o governador puxou coro pelo “Fora PT”, em uma fala marcada pelo tom eleitoral. Crítica semelhante foi publicada nas redes.

Para aliados do governador, esses gestos o ajudariam a ser ungido como o candidato do ex-presidente

Além de Bolsonaro, Tarcísio divulgou fotos neste ano ao lado do deputado federal licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e do deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), com grande popularidade nas redes sociais. Replicou ainda dois vídeos de Nikolas com críticas ao governo Lula e ao PT.

Com 5,2 milhões de seguidores no Instagram, 3,1 milhões no X, e 930 mil no Facebook, Tarcísio aumentou também neste ano as postagens para exibir sua ligação com os evangélicos e para mostrar seu lado “família”, com fotos e vídeos ao lado da esposa. Já são 37 publicações com essas características, ante 19 em todo ano de 2023 e 25 no ano passado.

Nas postagens sobre a gestão, a segurança é um dos temas mais frequentes, além da defesa de uma agenda liberal, com concessões e privatizações. No ano pré-eleitoral, Tarcísio tem buscado também reforçar marcas na área social, com o programa “SuperAção”, visto como uma espécie de “Bolsa Família” da gestão paulista e ações para gerar emprego, em contraponto a bandeiras históricas do PT.

Lula, ministros e petistas já tratam Tarcísio como potencial candidato à Presidência. Em entrevista ao podcast “Mano a Mano”, o presidente citou o governador como presidenciável, além dos governadores de Goiás, Ronaldo Caiado (União), e do Paraná, Ratinho Junior (PSD).

Na segunda-feira, o ministro da Casa Civil, Rui Costa, projetou o governador paulista como eventual candidato e centrou suas críticas a ele, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura. “Lula vai enfrentar no ano que vem 50 tons de Bolsonaro. São variações do bolsonarismo”, disse, fazendo comparações entre Tarcísio e Bolsonaro. Nos debates feitos pelo PT no processo de eleição interna para o novo presidente nacional do partido, o governador também foi citado com frequência como o provável adversário de Lula.

Há mudanças também na postura de Tarcísio em relação ao governo federal. No mês passado, o governador não quis dividir palanque com Lula na Favela do Moinho, em São Paulo, apesar de os dois governos terem se unido para apresentar uma solução habitacional para retirar os moradores da região e ceder o terreno onde vive a comunidade, que é da União, para a gestão estadual. Até então, os dois procuraram mostrar uma relação republicana, apesar de diferenças políticas e ideológicas.

Nos bastidores, aliados de Tarcísio afirmam que ele será candidato somente se tiver o aval do ex-presidente, com a garantia de que Bolsonaro não apoiará outro nome. Para isso, bolsonaristas defendem uma chapa de Tarcísio com um integrante da família Bolsonaro - a ex-primeira-dama Michelle ou Eduardo. Outra ponderação feita por interlocutores do governador é o cenário eleitoral de 2026 e as chances de vitória de um opositor de Lula. Tarcísio só concorrerá à Presidência se o Planalto não conseguir reverter a atual crise de popularidade e questões econômicas.

A decisão, repetem aliados, não deve ser tomada neste ano, mesmo com uma eventual prisão de Bolsonaro. Tarcísio tem até o início de abril para se desincompatibilizar do governo paulista se quiser disputar a Presidência, mas a eventual candidatura será definida já nas primeiras semanas de 2026, para que o governador possa costurar sua sucessão no Estado e articular um nome de consenso da direita.

 

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