quinta-feira, 10 de julho de 2025

A culpa do tarifaço é dos Bolsonaros - Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Em algum lugar da Flórida, a nata bolsonarista abre agora um espumante gargalhando

A responsabilidade pela tarifa de 50% ao Brasil anunciada na quarta-feira (9) pelo presidente dos EUA tem nome e sobrenome: Jair Messias Bolsonaro, e quem disse isso foi o próprio Donald Trump já na primeira linha de sua carta ao governo brasileiro. O presidente dos EUA qualifica como "desgraça internacional" punir o perdedor de eleições limpas que, incapaz de aceitar a derrota, orquestrou um golpe, liderou a depredação de prédios dos três Poderes e previu supostamente a prisão e a morte de autoridades.

A carta de Trump parece ter sido escrita por Eduardo Bolsonaro ou um dos patriotas (sic) que fugiram do Brasil para arquitetar diretamente da Disney a intervenção estrangeira norte-americana nos assuntos internos do país. Trump desnuda o patriotismo antipatriótico bolsonarista para quem ainda não tinha entendido: conspiram contra o Brasil celebrando a imposição de tarifas contra produtos brasileiros em violação a noções básicas de soberania, porque quer intervir no Judiciário brasileiro e não resolver déficit comercial. Em algum lugar da Flórida, a nata bolsonarista abre agora um espumante gargalhando do Brasil, no caso, rindo de nós.

Na política doméstica, o presidente dos EUA ajuda Lula: dá de mão beijada, de um lado, a quem culpar pela tarifa (Bolsonaros) e, de outro, abre a caixa de pandora da reciprocidade. Na política comercial, Trump prejudica Tarcísio, que deve agora trocar o seu boné trumpista por outro: "Faça o agronegócio mais pobre", já que o tarifaço deve afetar mais o setor agro, etanol e aéreo, e logo o Sudeste e o Centro-Oeste.

Na diplomacia, mais sóbria, Itamaraty deve convencer os americanos de que taxar neste volume um país com o qual os EUA possuem uma significativa balança comercial nos dois lados —com superávit comercial para os EUA— pode prejudicar os próprios americanos com a alta de preços no país. Junto com a sua carta, Trump assina o atestado de que se incomoda com os Brics revelando que, apesar de ser um animal desengonçado e instável, irrita os amigos da América do Norte.

 

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