O Povo (CE)
No Brasil, esse é o quadro partidário geral.
Muitos presidentes, caciques, acordos tudo a portas fechadas, ou dentro do
núcleo diretor. Quem detém poder eleitoral tende a dar as cartas no interior do
partido
Partidos políticos existem, em tese, para
canalizar, expressar e representar interesses da sociedade. Classes sociais,
categorias profissionais, agendas políticas, ideologias (com seus valores e
crenças), projetos futuros de sociedade essas são algumas das clivagens das
quais os partidos visariam ser expressão. Partidos são, antes de
tudo, partes da sociedade, em condições de democracia.
Na Ciência Política, contudo, há um considerável número de produções que dão conta de elementos internos da vida partidária que vão de encontro ao que seriam elementos democráticos necessários para seu desenvolvimento. Uma dessas produções é Sociologia dos Partidos Políticos, de Robert Michels, publicada em 1911. Nela está enunciada a famosa tese da oligarquização dos partidos, que pode ser assim enunciada:
Os partidos são elementos da democracia; mas,
como toda organização, tende a se concentrar, após sua institucionalização via
governo, afasta-se dos interesses de suas bases e passa a funcionar na lógica
de sua própria reprodução no poder. Perdem força a ideologia e a
militância e ganham proeminência a profissionalização e a manutenção no poder.
No Brasil, esse é o quadro partidário geral.
Muitos presidentes, caciques, acordos tudo a portas fechadas, ou dentro do
núcleo diretor. Quem detém poder eleitoral tende a dar as cartas no interior do
partido. Esse parece ser o caso, também, do PT no Ceará. Embora mobilizando a
sociedade, especialmente pautando o noticiário jornalístico, as eleições
internas deram mostras de poder concentrado no núcleo hoje vencedor, com Camilo
e Elmano conduzindo as diretrizes.
É certo que não se observam processos
eleitorais em outras siglas que não o PT. No PL, por exemplo, vimos Carmelo
deixar seu posto a mando lá de cima; na federação UNIÃO-PP sobram
desentendimentos que serão resolvidos nos gabinetes, não via eleição. No PT,
porém, as inúmeras desavenças tomam formas de disputa eleitoral, embora, como
bem lembrou Luizianne Lins a este Jornal, elas serão resolvidas por
uma onda de neo-filiados cujo número assombra.
O processo eleitoral interno legitima o poder
concentrado naqueles que, hoje, oligarquizam o jogo político no
interior da sigla.
Professor adjunto da Teoria Política da Uece
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