domingo, 3 de agosto de 2025

As motivações prioritárias dos EUA - Lourival Sant’Anna

O Estado de S. Paulo

Apesar de ter déficit com os EUA, Brasil é protecionista, com alíquota de 11% e ações anti-dumping

Grandes empresas brasileiras que exportam para os EUA contrataram escritórios de l obby em Washington para tentar encaixar seus produtos na lista de exceções da tarifa de 50%. Algumas, com sucesso. Enquanto isso, a situação política se deteriora com as sanções ao ministro do STF Alexandre de Moraes.

Um lobista que serviu no primeiro mandato de Donald Trump contratado por clientes brasileiros me explicou que o argumento de que as tarifas elevam os preços aos americanos não tem efeito. Os preços não subiram até agora – provavelmente por causa dos estoques feitos pelos importadores antes das tarifas. O governo Trump 2.0 não trabalha com cenários econômicos: está mais interessado em medidas de velocidade e impacto.

As tarifas têm quatro motivações mais prioritárias do que preços: trazer de volta a produção para os EUA, depois do trauma da pandemia, que expôs a dependência americana de bens provenientes do exterior; comércio justo e equilibrado; gerar receitas com os impostos alfandegários; e impor a solução de conflitos, no caso da Rússia.

A Embraer gera 2.500 empregos diretos e 10 mil indiretos nos EUA. Nos próximos 5 anos, ela prevê importar US$ 21 bilhões e exportar apenas US$ 13 bilhões, criando déficit de US$ 8 bilhões.

O Fórum de CEOs BrasilEUA reúne 11 empresas, que geram 18 mil empregos diretos nos EUA. Elas pretendem investir mais US$ 7 bilhões nos EUA em 3 anos, gerando mais 3 mil empregos. O Brasil poderá ser atingido por outra tarifa, de 100%, se continuar importando da Rússia, como parte da pressão de Trump para encerrar a guerra na Ucrânia.

Apesar de ter déficit com os EUA, o Brasil é muito protecionista, com alíquota média de 11%, enquanto a americana era de 2%; barreiras não-tarifárias e práticas desleais, como medidas anti-dumping. Só o governo brasileiro pode mudar isso.

O chanceler Mauro Vieira disse ao secretário de Estado Marco Rubio que “a Justiça é independente no Brasil, como nos EUA”. Trump acha que a Justiça americana é usada contra ele pelos democratas. O Departamento de Estado não quis comentar o encontro.

O influente secretário do Tesouro Scott Bessent comunicou ao ministro Fernando Haddad que eles não têm o que conversar. Só o vice Geraldo Alckmin conseguiu falar com o secretário de Comércio Howard Lutnick. “Ouçam Trump”, me disse o lobista Brian Ballard, ex-advogado do presidente. “Não queremos que o Brasil se torne Cuba ou Venezuela. Ainda não é.”

 

 

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