domingo, 3 de agosto de 2025

Centrão: ‘Daqui não passo’ - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Eduardo Bolsonaro não escapa do STF; Jair Bolsonaro, nem do STF nem do Congresso

O projeto de anistia para Jair Bolsonaro e o destino do seu filho 03, Eduardo Bolsonaro, estarão no topo da agenda política, em mais uma semana daquelas, com a reabertura do Legislativo, a sociedade radicalizada e o País sob a expectativa da entrada em vigor do tarifaço na quarta-feira, sem que saiba até onde Donald Trump pretende ir.

O foco estará nos presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, que estão no fio da navalha, sob pressão dos bolsonaristas, pela anistia, e dos lulistas, pela cassação de Eduardo Bolsonaro, que trocou os votos pelas armas e está na linha de frente dos ataques dos EUA ao Brasil.

Alcolumbre e Motta são legítimos líderes do Centrão e quem manda no Congresso é o Centrão, da direita não tão ideológica, muito mais fisiológica, cuja grande expertise é sentir os ventos para escolher o lado que promete as maiores vantagens, emendas, cargos...

Justiça se faça, porém. Isso não significa que Alcolumbre, Motta, o Centrão e o Congresso apoiem tarifaço americano, ataques de Trump ou golpes de Estado. Bom exemplo é Arthur Lira, ex-presidente da Câmara e patrocinador de Motta à sua sucessão. Às emendas e cargos, tudo! Golpe, jamais!

Lira traçou uma linha no chão, inclusive para o general Braga Netto, agora réu pela tentativa de golpe, que, segundo o Estadão, ainda em 2021, lhe enviou um emissário com a ameaça de que, sem “votos impressos e auditáveis”, não haveria eleição. Lira reagiu: “Daqui não passo”. E não passou. Com o então presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, comandou o Congresso no rumo da democracia e, apesar de provavelmente não ter votado em Lula, foi o primeiro a reconhecer institucionalmente sua vitória em 2022.

Assim, com todos os defeitos que tenham, é provável que Alcolumbre e Motta não se unam aos radicais para anistiar quem atentou contra a democracia, apesar de ficarem em cima do muro quanto à cassação de Eduardo Bolsonaro, que tem pilhas de motivos, mas pode não ser conveniente.

Um dos erros de Eduardo Bolsonaro foi acusar Motta de ter se comprometido com a anistia e recuado por medo, depois de uma batida da PF, por desvios de emendas, na cidade da Paraíba em que o pai é prefeito. Mexeu com os brios e a família de Motta.

E mais: nem a anistia de Jair nem o destino de Eduardo estão nas mãos do Congresso, mas sim do STF, da PGR e da PF, de olho no deputado e no blogueiro Paulo Figueiredo por, basicamente, conspirarem contra o Brasil no exterior. Se escapar no Legislativo, o 03 dificilmente escapa no Judiciário. E Jair Bolsonaro não escapa de nenhum dos dois.

 

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