domingo, 3 de agosto de 2025

Guerra de Trump ainda pode piorar - Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Brasileiros que tiveram conversas nos EUA temem novos ataques, não se sabe se comerciais ou políticos

ataque especial de Donald Trump à economia do Brasil parece ter sido motivado pelo interesse de apoiar os golpistas Bolsonaros. Como fatores coadjuvantes, pela tentativa de barrar planos de regular e tributar big techs e de mostrar que a aliança dos Brics custaria caro. O ataque direto a Alexandre de Moraes e ao STF sublinha o motivo político da agressão.

É o que parece óbvio; é o que se depreende de conversas com diplomatas, associações empresariais, lobistas brasileiros, com senadores que estiveram nos EUA e com gente do governo.

Muitas dessas pessoas estão pessimistas. O temor principal: dado o motivo político, mais pressão deve vir, até porque Jair Bolsonaro e outros membros da gangue que conspira contra o país devem ser condenados pela Justiça ou punidos legalmente de alguma outra maneira.

Em especial na visão de empresas e diplomatas, é difícil esperar que Trump abra mão de agressões adicionais caso se sinta contestado, por assim dizer, por novas providências legais contra seus amigos golpistas. A dúvida maior é a respeito do teor dos novos ataques.

Trump pode dirigir a maioria de seus tiros para alvos políticos. Mais ministros do STF, juízes, procuradores, diplomatas e autoridades do governo Lula seriam atingidos. Manobras legais poderiam dificultar a vida financeira dessas pessoas, com pressão sobre instituições financeiras e empresas americanas e suas conexões, brasileiras ou não. Para começar.

Quanto ao futuro da frente comercial da guerra, a incerteza é maior. Entrevistados dizem que é claro o sentido geral das isenções do tarifaço: certos lobbies empresariais americanos estão bem situados, desde o início do ano, para evitar danos maiores. Mas é difícil de entender a escolha de setores poupados. Ainda assim, o modo por ora mais eficiente de atenuar danos seria a associação com empresas americanas prejudicadas. Trump e sua gente não ouviriam argumentos políticos e discussões sobre relações entre Brasil e Estados Unidos no longo prazo.

O que vai prevalecer: interesse político ou lobby empresarial? Não se sabe, até porque ações brasileiras podem provocar reações de Trump, tal como tentativas de Lula de articular alternativas comerciais e políticas com outros países. Não apenas.

Trump pode voltar a mexer em impostos de importação ("tarifas") caso não veja resultados expressivos no saldo comercial ou na arrecadação de tributos. Dado o sucesso de sua "Blitzkrieg" tarifária, do ponto de vista dele, Trump ainda pode usar a arma comercial em vários conflitos, tal como ameaça fazer com parceiros comerciais da Rússia (com apoio bipartidário do Congresso), com a Índia (relações militares com a Rússia) e com o Canadá (questão palestina).

Tribunais podem derrubar parte do tarifaço, contestado por cinco empresas e 12 estados sob governo democrata. Um tribunal federal de recursos pode julgar o caso em até três meses. As partes derrotadas podem recorrer à Suprema Corte. Dificilmente o assunto seria resolvido em menos de um ano.

Trump pode perder a maioria no Congresso no final de 2026, mas a eleição está longe, a popularidade dele não está em derrocada, não se sabe do impacto econômico de curto prazo da política perversa e nem se isso vai comover a maioria do eleitorado. Trump pode de resto tentar "melar" o jogo, que é o seu objetivo central.

Enfim, trata-se apenas do começo de uma nova inimizade.

 

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