domingo, 3 de agosto de 2025

O lado certo da força - Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Não se deve dar asas às cobras do golpe, sob pena de liberá-las para engendrarem novos ataques

O resultado das ações do filho do ex-presidente e do neto do último ditador do regime militar comprova não só a influência dos dois em Washington, como é a maior evidência de que é justo, e até ameno, o empenho rigoroso do Supremo Tribunal Federal no trato aos golpistas e companhia.

As sanções econômicas ao Brasil e o cerco financeiro a Alexandre de Moraes, passível de ser estendido a outros ministros do STF, demonstram que não se pode desdenhar da aptidão de certos seres deformados para produzirem o mal.

Foram capazes de engendrar planos de prisão e assassinatos para tentar não só contrariar a vontade popular expressa em eleição livre, como derrubar os preceitos de uma República de democracia reconquistada a duríssimas penas. São capazes de tudo e mais um pouco, como vemos agora.

Não medem consequências e, portanto, tampouco se deve contemporizar na aplicação de corretivos legais aos que colocam o país abaixo de suas conveniências malsãs.

O "Brasil acima de tudo" é, pois, uma mentira. Bem contada, mas agora desmontada na ofensiva da direita extremada liderada por Eduardo Bolsonaro (PL) e Paulo Figueiredo.

Os dois foram subestimados enquanto foi superdimensionada a crítica à rigidez do STF, da Polícia Federal e da Procuradoria-Geral da República na condução da investigação e do julgamento dos crimes de lesa-pátria.

Nunca é tarde, no entanto, para se corrigir o rumo da abordagem dos acontecimentos que desembocam num fato: de um lado há infratores e de outro operadores da lei. Não é difícil escolher junto a qual tipo de vizinhança devemos nos postar.

A despeito do êxito imediato dos conspiradores, o efeito pode ser temporário e exposto como erro de cálculo, se os brasileiros conseguirem reconhecer o risco de se dar asas a essas cobras. Tratadas com complacência, voltarão a atacar.

A Justiça tem seus meios, e a política, os próprios métodos, para extirpar de seu seio os criminosos. Eleitores temos à disposição a ferramenta do discernimento na hora do voto.

 

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