O Estado de S. Paulo
Nesta sexta-feira começaram
a aparecer na economia dos Estados Unidos os primeiros sinais da infecção
produzida pelo tarifaço global decretado pelo presidente Donald Trump.
O indicador Payroll, que
sonda o mercado de trabalho dos Estados Unidos, mostrou que, em julho, foram
abertos por lá apenas 73 mil empregos. É resultado decepcionante, na medida em
que a expectativa apontava para 101 mil. Trump não gostou do que viu e demitiu
a encarregada das estatísticas. Ou seja, matou o mensageiro.
A partir daí – e na esteira de outros dados –, os analistas foram quase unânimes em prever a continuação da queda do emprego, como em diagnosticar o início de um período de desaceleração da atividade econômica, com aumento da inflação. Não é ainda o que os economistas chamam de estagflação (estagnação mais inflação), mas pode ser o início disso.
As principais bolsas dos
Estados Unidos despencaram (Dow Jones 1,23% e Nasdaq 2,24%), o dólar mergulhou
em relação às outras moedas fortes, inclusive em relação ao real (0,9%). Por
farejar a desaceleração e, portanto, o menor consumo de energia, os preços do
barril de 159 litros tipo Brent caíram 2,8%.
Por trás desses sinais de
deterioração está a ação do tarifaço. A tarifa alfandegária média dos Estados
Unidos saltou de 2,3%, em 2024, para 15,2%. A decisão foi anunciada em abril,
mas a nova síndrome começou a aparecer apenas agora, porque, já esperando pelo
que veio, os importadores dos Estados Unidos haviam reforçado seus estoques. E
também porque ainda faltava avaliar melhor o impacto do tsunami.
Se for confirmado aumento
relevante da inflação nos Estados Unidos, ficará inevitável o início de um
período de redução dos juros básicos (Fed funds) pelo Fed (banco central dos
EUA).
Por toda parte, tende a se
espalhar pelo mundo um sentimento de “malaise” que, no caso, é mistura de
desânimo, de impotência e de perda de confiança. O Índice Vix ( Volatility
Index),considerado termômetro do medo nos Estados Unidos, chegou a quase 30% na
sexta-feira.
Além de ter de tratar sua
anemia crônica produzida pelo rombo fiscal, a economia brasileira passou a
enfrentar mais duas adversidades: essa mistura de desaceleração da atividade
econômica e inflação, que começa a tomar a economia mundial; e o impacto do tarifaço
sobre setores importantes da economia. É incerteza sobre incerteza, mesmo com o
avanço do PIB do Brasil perto dos 2%, neste ano.
Não dá para separar economia
da política. A tentativa declarada de interferência de Trump nas instituições
brasileiras e no jogo político interno pode semear mais confusão no processo
eleitoral interno.
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