Folha de S. Paulo
Além de pilhado por ladrões, INSS é incapaz
de fazer serviço básico, com filas enormes
Descaso com reformas essenciais faz país
enfrentar riscos, como o de estouro no setor elétrico
A Polícia
Federal diz que tem mais político no listão da propina de uma
das gangues da roubança no INSS.
Suponha-se, por hipótese, que uma bancada de parlamentares ou figurões
oposicionistas apareça com a boca na botija, com mala de dinheiro ou com notas
no fundilho das calças, por assim dizer, esse clássico anacrônico da corrupção
nacional (rouba-se com Pix). Ainda assim, vai ser difícil que Luiz Inácio Lula da
Silva escape de perder pontos nas pesquisas.
O massacre do Rio e a campanha do "mata, prende e arrebenta" da direita já pareciam conter o breve inverno de recuperação de Lula 3 (julho a setembro). A maré vira. Assim foi também porque o governo e esquerdas oficiais quase nada têm a oferecer em planos e resultados de contenção do crime, menos ainda no caso de facções.
A roubança do INSS vinha de longe, passou por
três governos. Mas ainda engordou por mais de dois anos de Lula 3.
Assim foi porque este governo não se ocupou de fazer varredura e reforma no
INSS, instituição envelhecida, piorada sob Jair Bolsonaro, desaparelhada, mal
administrada e incapaz. Mesmo sem corrupção grossa, o INSS seria um
escândalo, com sua fila
de 2,6 milhões de pessoas à espera do benefício, para ficar no
problema mais gritante.
Não ter programa, não ter ou chamar quadros
competentes, não fazer reforma, dá nisso. Por exemplo, o governo dá chance para
o azar no setor elétrico. O Brasil
consegue ter oferta de energia de sobra, eletricidade cara e risco
de apagão em horário de pico, tudo ao mesmo tempo, o que não faz sentido algum
em um mundo normal. Encomenda uma crise financeira de empresas do setor, por
falta de planejamento, subsídios ruins, porcarias aprovadas por lobbies no
Congresso e uma confusão de décadas. Talvez alguém acorde no dia em que vier um
apagão nacional daqueles, de horas ou dia inteiro. Até lá, não tem reforma, nem
ao menos plano. O sistema sobrevive no fio da navalha devido à competência das
agências que o operam.
Politicamente, o problema do INSS floresceu.
A PF acusa do ex-presidente do INSS, Alessandro
Stefanutto, de levar R$ 250 mil por mês. O governo, flutuando na
estratosfera da ilusão ou da negação, animou-se com o fato de que a polícia
colocou uma tornozeleira em José Carlos Oliveira, presidente do INSS e ministro
do Trabalho e Previdência sob Jair Bolsonaro. Dado o tamanho da imundície no
INSS, de que Lula 3 não se ocupou até abril deste ano, quem vai ligar?
Havia indícios de roubança já sob o governo
das trevas de Bolsonaro, ao menos desde 2019; sinal de rolo desde 2016. Em
2024, o Tribunal de Contas apontou o problema de descontos indevidos nos
benefícios; a CGU apontou rolo grosso e omissão do INSS. O governo titubeou
para demitir Stefanutto; enrolou para tirar Carlos Lupi (PDT) do cargo de
ministro da Previdência. Do "estrutural" ao "circunstancial",
o governo foi omisso e incapaz.
Assim, se roubaram bilhões do povo que recebe
benefícios do INSS. Assim se rouba a paciência e o bem-estar de quem é
infernizado pelo atraso nos benefícios. Assim aparecem precatórios aos montes,
que desorganizam ainda mais o planejamento e as contas públicas. O que sobra
agora é fazer mágicas e milagres a fim de evitar danos nas pesquisas. Nem ao
menos programa de reforma apareceu. Pode ter mais. Vejam os Correios. E o
governo queria a Eletrobras de volta, sem ligar para o risco de ter um
"eletrolão" nas costas. Não aprende.
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