sexta-feira, 14 de novembro de 2025

A incompetência de Lula 3 no INSS, por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Além de pilhado por ladrões, INSS é incapaz de fazer serviço básico, com filas enormes

Descaso com reformas essenciais faz país enfrentar riscos, como o de estouro no setor elétrico

Polícia Federal diz que tem mais político no listão da propina de uma das gangues da roubança no INSS. Suponha-se, por hipótese, que uma bancada de parlamentares ou figurões oposicionistas apareça com a boca na botija, com mala de dinheiro ou com notas no fundilho das calças, por assim dizer, esse clássico anacrônico da corrupção nacional (rouba-se com Pix). Ainda assim, vai ser difícil que Luiz Inácio Lula da Silva escape de perder pontos nas pesquisas.

massacre do Rio e a campanha do "mata, prende e arrebenta" da direita já pareciam conter o breve inverno de recuperação de Lula 3 (julho a setembro). A maré vira. Assim foi também porque o governo e esquerdas oficiais quase nada têm a oferecer em planos e resultados de contenção do crime, menos ainda no caso de facções.

A roubança do INSS vinha de longe, passou por três governos. Mas ainda engordou por mais de dois anos de Lula 3. Assim foi porque este governo não se ocupou de fazer varredura e reforma no INSS, instituição envelhecida, piorada sob Jair Bolsonaro, desaparelhada, mal administrada e incapaz. Mesmo sem corrupção grossa, o INSS seria um escândalo, com sua fila de 2,6 milhões de pessoas à espera do benefício, para ficar no problema mais gritante.

Não ter programa, não ter ou chamar quadros competentes, não fazer reforma, dá nisso. Por exemplo, o governo dá chance para o azar no setor elétrico. O Brasil consegue ter oferta de energia de sobra, eletricidade cara e risco de apagão em horário de pico, tudo ao mesmo tempo, o que não faz sentido algum em um mundo normal. Encomenda uma crise financeira de empresas do setor, por falta de planejamento, subsídios ruins, porcarias aprovadas por lobbies no Congresso e uma confusão de décadas. Talvez alguém acorde no dia em que vier um apagão nacional daqueles, de horas ou dia inteiro. Até lá, não tem reforma, nem ao menos plano. O sistema sobrevive no fio da navalha devido à competência das agências que o operam.

Politicamente, o problema do INSS floresceu. A PF acusa do ex-presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, de levar R$ 250 mil por mês. O governo, flutuando na estratosfera da ilusão ou da negação, animou-se com o fato de que a polícia colocou uma tornozeleira em José Carlos Oliveira, presidente do INSS e ministro do Trabalho e Previdência sob Jair Bolsonaro. Dado o tamanho da imundície no INSS, de que Lula 3 não se ocupou até abril deste ano, quem vai ligar?

Havia indícios de roubança já sob o governo das trevas de Bolsonaro, ao menos desde 2019; sinal de rolo desde 2016. Em 2024, o Tribunal de Contas apontou o problema de descontos indevidos nos benefícios; a CGU apontou rolo grosso e omissão do INSS. O governo titubeou para demitir Stefanutto; enrolou para tirar Carlos Lupi (PDT) do cargo de ministro da Previdência. Do "estrutural" ao "circunstancial", o governo foi omisso e incapaz.

Assim, se roubaram bilhões do povo que recebe benefícios do INSS. Assim se rouba a paciência e o bem-estar de quem é infernizado pelo atraso nos benefícios. Assim aparecem precatórios aos montes, que desorganizam ainda mais o planejamento e as contas públicas. O que sobra agora é fazer mágicas e milagres a fim de evitar danos nas pesquisas. Nem ao menos programa de reforma apareceu. Pode ter mais. Vejam os Correios. E o governo queria a Eletrobras de volta, sem ligar para o risco de ter um "eletrolão" nas costas. Não aprende.

 

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