Correio Braziliense
Anísio Teixeira defendeu uma educação
universal e a implantou em Brasília. Seu objetivo era, com a educação, gerar uma
revolução social
A vida ensina sempre. E, em 1665, em São Luís
do Maranhão, o Padre Antônio Vieira ensinou que a "educação e a humildade
são moedas de ouro. Valem muito em qualquer lugar e em qualquer tempo". A
essas duas virtudes, quando se fala do professor Anísio Spínola Teixeira, temos
que acrescentar pelo menos mais uma: visionário.
Anísio Teixeira defendeu uma educação universal e a implantou em Brasília. Seu objetivo era, com a educação, gerar uma revolução social. Não defendia uma meia revolução, mas uma revolução total. Tinha um propósito certeiro: "Educação não é privilégio. É valor universal. Tem que ser gratuita, interativa e acessível a todos".
Vinte e oito anos antes da inauguração de
Brasília, sempre visionário, o patrono da educação pública do Brasil assinou o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, projetando-se como um dos maiores
educadores nacionais. Para elaborar e desenvolver esse documento, Anísio
Teixeira trouxe as ideias do professor, filósofo e pedagogo norte-americano
John Dewey, o pai da escola nova. Dewey formulou os princípios básicos do
movimento para uma educação baseada na participação ativa do aluno. Criticava o
modelo tradicional focado na memorização.
Mais do que aderir ao pensamento de Dewey,
Anísio Teixeira realizou traduções das obras do autor. Sempre idealista, ante
uma realidade em que a maioria da população permanecia sem qualquer acesso à
formação básica enquanto uma elite frequentava escolas de formação clássica,
Anísio se lançou na missão da educação. Lutou muito para mudar o cenário da
educação pública no Brasil.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova
(detalhe: usou o mesmo termo nova do professor Dewey) propunha que o
conhecimento tinha de ser construído pela prática e pela interação com o mundo
real, visando formar cidadãos criativos e capazes de gerenciar a própria
liberdade em uma sociedade democrática. Era uma reforma radical no sistema
educacional brasileiro. O Manifesto foi redigido por 26 intelectuais. Além de
Anísio Teixeira, assinaram Cecília Meireles, Fernando Azevedo, Delgado de
Carvalho, Roquette Pinto e Hermes de Lima.
Na construção de Brasília, Anísio Teixeira
concebeu e implantou o Plano de Construções Escolares da Nova Capital, com as
icônicas escolas parques, que até hoje empunham a bandeira de uma escola única,
pública, laica, obrigatória e gratuita. Ela é alma do Manifesto de 1932.
Em boa hora, a secretária de Estado de
Educação do DF, Hélvia Paranaguá, com sensibilidade de mestra da educação, teve
a perspicácia e a sensatez de resgatar e trazer aos holofotes da política e da
comunidade pedagógica os ensinamentos e a obra de Anísio Teixeira. Hélvia levou
ao governador a ideia de homenagear o legado do patrono da educação pública no
Brasil pelos muitos de seus seguidores que souberam plantar seus métodos e aos
que contribuíram para o fortalecimento e a valorização da educação pública.
Ibaneis Rocha encampou a proposta e, em 13 de junho de 2023, assinou o Decreto
nº 44.620, criando a Medalha Anísio Teixeira, que será entregue hoje, no
auditório da Unidade-Escola de Formação Continuada dos Profissionais da
Educação (Eape).
Voltando no tempo. Ao tomar por base os ensinamentos
de Anísio Teixeira no desenvolvimento de ações para formação cidadã e, assim,
qualificar o cidadão para o mercado de trabalho buscando a superação das
desigualdades que, em 2007, como secretário de Estado da Cultura, sempre muito
bem orientado pelas historiadoras Martita Icó e Luciana Ricardo e pelo
professor José Carlos Coutinho, fizemos o estudo para o tombamento da obra e do
legado de Anísio Teixeira, a pedido do então governador José Roberto Arruda. Em
4 de julho de 2007, entre vários "considerando", enaltecendo a obra e
legado de Anísio Teixeira, o governador Arruda assinou o decreto nº 28.093,
tombando e registrando o ideário pedagógico de Anísio Teixeira, por ter
elaborado e implantado o Plano de Construções Escolares de Brasília.
Vale lembrar que, além desse registro de
tombamento, ainda fizemos outros 10: o do Festival de Brasília do Cinema
Brasileiro, do Cine Brasília, do Clube do Choro, da Via Sacra do Morro da
Capelinha, do Teatro Dulcina e Acervos, da Escola EIT de Taguatinga, da Revista
Brasília, da Unidade de Vizinhança 107/108, da Aruc e do Clube de Golfe.
Tombamento é uma palavra de origem portuguesa
que significa registrar um bem material ou imaterial no livro da Torre do
Tombo, em Portugal. A Torre do Tombo, situada na torre do Castelo São Jorge,
hoje tem um nome pomposo: Instituto dos Arquivos Nacionais/Torre do Tombo. E o
Brasil segue essa tradição.
De minha parte, ainda continuo com outro
sonho: tombar o céu de Brasília. Afinal, para Lucio Costa, "o céu é o mar
de Brasília", e o céu é parte de seu genial Plano Piloto. Um dia
chegaremos lá.

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