sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Oposição pauta agenda negativa na Câmara para impedir reeleição de Lula, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A inflexão no cenário eleitoral não está apenas no escândalo do INSS ou na disputa sobre segurança pública. Inflação, deficit fiscal e juros altos se tornaram munição da oposição

A oposição conseguiu abalar a popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva mais uma vez, com uma agenda negativa focada nas bandeiras da ética e da ordem. O resultado está explícito nas intenções de voto dos brasileiros: em todos os cenários para a corrida eleitoral de 2026, a vantagem de Lula sobre os adversários voltou a diminuir, e a rejeição aumentou, conforme levantamento da Genial/Quaest divulgado nesta quinta-feira. Fazem parte dessa agenda, entre outros temas, a questão da segurança pública e o escândalo do INSS.

A crise com os Estados Unidos, depois do encontro da Malásia, entre Lula e o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, desescalou, mas isso não tem impacto no cotidiano da população. O êxito da realização da COP30 em Belém, no Pará, sem embargo das eventuais críticas à organização do evento, também não teve grande repercussão na avaliação do governo por parte dos que não vivem na Amazônia.

Em contrapartida, a oposição já se mobiliza para derrubar os 63 vetos de Lula à nova Lei de Licenciamento Ambiental, logo após a conferência, na linha do quanto pior, melhor. Além de inviabilizar a realização das metas ambientais estabelecidas a partir do Acordo de Paris, a eventual derrubada dos vetos será uma desmoralização internacional para o país, que presidirá a COP até a próxima conferência, prevista para 2026. Austrália e Turquia disputam a sede do evento.

A agenda negativa da oposição ganhou alta combustão pública, com temas como segurança, ética e corrupção, e o fator estrutural que afeta diretamente o humor do eleitor: a economia. O escândalo envolvendo desvios bilionários no INSS e a explosão de operações policiais nos estados reforçam a sensação de descontrole, enquanto governadores como Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas vocalizam um discurso de “ordem” que contrasta com a narrativa federal. A consequência é visível: a rejeição de Lula subiu de 51% para 53%, e sua vantagem sobre quase todos os adversários testados diminuiu de maneira consistente.

A inflexão no cenário eleitoral, porém, está principalmente na economia do dia a dia, em que deficit fiscal e juros elevados se tornaram munição diária da oposição e fonte permanente de desgaste para o governo. Embora o IPCA esteja sob controle técnico, a inflação percebida — alimentos, mensalidades, combustíveis, serviços — encarece a vida e gera frustração. É essa inflação real, sentida no supermercado e no transporte, que reduz o apoio difuso ao governo por parte da população.

Peso do cotidiano

Ao mesmo tempo, o deficit fiscal tornou-se um símbolo político. A mudança da meta, a dificuldade de conter despesas obrigatórias e a hesitação em comunicar uma âncora sólida fragilizaram a credibilidade fiscal junto aos agentes econômicos, que operam na direção de uma candidatura de oposição competitiva, comprometida com um duro ajuste fiscal e um programa de privatizações e extinção de órgãos públicos. A oposição, de forma monocórdica, associa gastos sociais à inflação e à falta de investimentos privados.

O resultado é a consolidação da narrativa de que Lula “não controla as contas”, mesmo quando parte do desequilíbrio decorre de pressões judiciais. Esse discurso tem ainda mais credibilidade porque o atual presidente do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, faz o seu dever de casa monetárista e mantém os juros altos.

A agenda negativa se completa com a taxa de juros. Apesar de a oposição defender a autonomia do Banco Central, o desgaste político da Selic — crédito caro, endividamento recorde e retração do consumo — recai sobre o Planalto. O eleitor médio não distingue nuances: vê o preço do carro subir, a fatura do cartão de crédito explodir, e conclui que a economia não anda. Assim, a oposição transfere para o governo a responsabilidade pelo custo do dinheiro, reforçando a sensação de paralisia.

Nesta quinta-feira, a Genial/Quaest mostrou nova queda da aprovação de Lula nas pesquisas. Ele segue competitivo e venceria todos os cenários de segundo turno, mas sua vantagem é menor: apenas três pontos sobre Jair Bolsonaro, por exemplo, e recuos expressivos diante de Tarcísio, Ciro e Ratinho Jr. Ainda mais revelador é o movimento da opinião pública: 59% não querem que Lula seja candidato à reeleição, enquanto um quarto dos eleitores passou a defender um nome fora da bipolaridade Lula-Bolsonaro.

Esse desgaste favorece governadores que exploram a segurança pública como capital eleitoral. A megaoperação no Rio de Janeiro produziu dividendos imediatos para Cláudio Castro (PL), cuja popularidade cresceu nacionalmente por contraste com a imagem de hesitação atribuída ao governo federal. Trata-se da mesma lógica observada nas Filipinas, sob Duterte, ou em El Salvador, sob Bukele: operações de alto impacto geram ganhos rápidos de aprovação, mesmo quando sua eficácia estrutural é duvidosa e seus custos institucionais são elevados.

O risco para o governo é que esse ciclo — economia travada, operações espetaculosas dos governadores de oposição, escândalo do INSS, derrotas legislativas — engrosse a narrativa da estagnação do país. O governo, para recuperar terreno, precisa de resultados concretos: inflação menor, recomposição de renda, juros mais baixos e menos violência. O cotidiano definirá a eleição de 2026.

 

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