Folha de S. Paulo
Relatório desastrado e apressado de Derrite
dá munição ao presidente e divide até a direita
Reeleição depende de o petista tirar a
discussão da segurança pública e focar em outras áreas
A escolha desastrada de Hugo Motta para
relatar o projeto antifacção e o parecer
apressado do deputado Guilherme
Derrite (PP) permitiram ao PT e ao governo vencer na opinião pública
uma primeira batalha, mas a reeleição de Lula depende
é de uma mudança de assunto.
O pensamento majoritário no Brasil sobre
segurança pública é desconectado
do que pensam o presidente e seu partido. No imaginário popular, são
operações como a do Rio, com
centena de mortos, que vão diminuir a explosão de golpes e roubos de
celular –mesmo que PCC e Comando Vermelho tenham pouca relação com esses
crimes.
A população aplaude praticamente qualquer medida para endurecer o combate ao crime. Classificar facções como grupos terroristas? "Esqueça os especialistas, é uma ótima ideia!" Até a PEC da Segurança Pública, que 99% mal devem saber do que trata, registra apoio amplo na sociedade.
A avaliação do governo federal na área
melhorou um pouco, graças à resposta rápida (liderada pela Secom) e erros dos
adversários, que em busca de propostas simplórias para encaixar em cards no
Instagram ignoraram a opinião de policiais e promotores referências no combate
ao PCC.
A sorte do PT foi que Motta politizou
o projeto ao escolher o secretário daquele que deve ser o adversário
de Lula em 2026. "Traiu" o governo, mas também dividiu a direita.
Colocar o pupilo de Tarcísio
de Freitas para liderar as negociações fez com que outros governadores
que sonham com a Presidência fossem a Brasília defender o adiamento "para
melhorar a proposta", atrás de protagonismo no tema.
Insistir no assunto, no entanto, não é a
melhor estratégia. O governo errou ao pedir o adiamento da votação por
filigranas técnicas. Quis chutar o adversário acuado, mas era melhor tratar no
Senado, com menos espetacularização, e mudar o tema do debate público.
A reeleição de Lula passa pela economia
aquecida, programas sociais, o discurso da justiça tributária e o fim da
jornada 6x1, e não pela defesa do auxílio-reclusão.

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