sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Lula precisa mudar de assunto, por Raphael Di Cunto

Folha de S. Paulo

Relatório desastrado e apressado de Derrite dá munição ao presidente e divide até a direita

Reeleição depende de o petista tirar a discussão da segurança pública e focar em outras áreas

A escolha desastrada de Hugo Motta para relatar o projeto antifacção e o parecer apressado do deputado Guilherme Derrite (PP) permitiram ao PT e ao governo vencer na opinião pública uma primeira batalha, mas a reeleição de Lula depende é de uma mudança de assunto.

O pensamento majoritário no Brasil sobre segurança pública é desconectado do que pensam o presidente e seu partido. No imaginário popular, são operações como a do Rio, com centena de mortos, que vão diminuir a explosão de golpes e roubos de celular –mesmo que PCC e Comando Vermelho tenham pouca relação com esses crimes.

A população aplaude praticamente qualquer medida para endurecer o combate ao crime. Classificar facções como grupos terroristas? "Esqueça os especialistas, é uma ótima ideia!" Até a PEC da Segurança Pública, que 99% mal devem saber do que trata, registra apoio amplo na sociedade.

A avaliação do governo federal na área melhorou um pouco, graças à resposta rápida (liderada pela Secom) e erros dos adversários, que em busca de propostas simplórias para encaixar em cards no Instagram ignoraram a opinião de policiais e promotores referências no combate ao PCC.

A sorte do PT foi que Motta politizou o projeto ao escolher o secretário daquele que deve ser o adversário de Lula em 2026. "Traiu" o governo, mas também dividiu a direita. Colocar o pupilo de Tarcísio de Freitas para liderar as negociações fez com que outros governadores que sonham com a Presidência fossem a Brasília defender o adiamento "para melhorar a proposta", atrás de protagonismo no tema.

Insistir no assunto, no entanto, não é a melhor estratégia. O governo errou ao pedir o adiamento da votação por filigranas técnicas. Quis chutar o adversário acuado, mas era melhor tratar no Senado, com menos espetacularização, e mudar o tema do debate público.

A reeleição de Lula passa pela economia aquecida, programas sociais, o discurso da justiça tributária e o fim da jornada 6x1, e não pela defesa do auxílio-reclusão.

 

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