sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Roubalheira ecumênica, por Bernardo Mello Franco

O Globo

Esquema para lesar aposentados atravessou governos Bolsonaro e Lula

A nova fase da Operação Sem Desconto expôs uma roubalheira ecumênica. As investigações indicam que políticos à esquerda e à direita se lambuzaram no esquema do INSS. Formaram uma frente ampla para tomar dinheiro dos aposentados.

Ontem a Polícia Federal prendeu Alessandro Stefanutto, ex-presidente da autarquia federal. Indicado pelo PDT, ele é acusado de receber mesada de R$ 250 mil de uma entidade sob suspeita. Para esconder a propina, diz a PF, usou até uma pizzaria.

Quando a gatunagem veio à tona, o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, afirmou que a escolha de Stefanutto era de sua “inteira responsabilidade”. O pedetista caiu, mas o governo não se livrou do desgaste. O investigado foi nomeado em julho de 2023, seis meses depois de Lula subir a rampa.

A oposição festejou o escândalo do INSS como um trunfo eleitoral. Pode ter se precipitado. Um dos novos alvos da polícia foi José Carlos Oliveira, ministro da Previdência no governo Jair Bolsonaro. De acordo com a PF, ele teve papel “estratégico” para “o funcionamento e a blindagem da fraude”.

Depois de servir ao governo do capitão, Oliveira se converteu ao islamismo e mudou o nome para Ahmad Mohamad. Mas as investigações não têm nada a ver com isso. Segundo decisão do ministro André Mendonça, o ex-ministro “autorizou repasses ilegais e recebeu vantagens indevidas”. Assim, misturou-se ao “rol de agentes públicos corrompidos pela organização criminosa”.

A PF também bateu à porta do deputado Euclydes Pettersen, correligionário de Hugo Motta e Tarcísio de Freitas no Republicanos. Os investigadores o descreveram como “a pessoa melhor paga na lista de propina”. Ele teria recebido ao menos R$ 14,7 milhões em depósitos fracionados.

Mendonça rejeitou o pedido para afastar o deputado e monitorá-lo com uma tornozeleira eletrônica. Argumentou que a vigilância de um parlamentar exigiria “extrema cautela”. Pettersen se considera um patriota. Em 2022, convocou motociata, passeou na garupa do general Braga Netto e foi votar com a camisa da seleção.

 

 

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