Embora troquem os maiores desaforos em público, os ministros do Supremo
concordam numa coisa nos bastidores: os arroubos de Marcos Valério por delação
premiada não convencem.
Nos seus últimos dias no STF, o presidente, Ayres Britto, tenta articular
uma redução de penas do próprio Valério e de Roberto Jefferson, mas não por
delações atuais e futuras, e sim por colaborações passadas.
Sem as listas de nomes entregues por Valério, o processo não seria o mesmo
-nem teria tantos réus. Sem as revelações de Jefferson, simplesmente não
existiria. Isso deve servir de alguma coisa na dosimetria.
Quanto às novas denúncias giratórias de Valério, podem ou não ser
verdadeiras, mas não parecem nada verdadeiras. Carecem de provas e de
oportunidade e, quando vão de Santo André a Marte e Saturno, perdem
credibilidade a cada quilômetro percorrido rumo ao nada.
Lá entre eles, os ministros suspeitam que possa haver uma "estratégia
ardilosa" por trás do que Valério tem dito, ora à Procuradoria, ora à
revista "Veja".
Ele pode estar, por exemplo, operando um processo -ou uma tentativa- de
procrastinação indefinida das condenações e prisões.
Pela lei, toda vez que algo novo é acrescentado aos autos, as partes terão
direito a pedir vistas. Em caso de delação premiada de Valério, esse poderia
ser o pretexto para que os advogados apresentassem incontáveis pedidos de
vista.
Há, ainda, a possibilidade de Valério ser apenas um precursor e a moda
pegar. E se os demais réus saírem também em desabalada carreira por delação
premiada? Daria em congestionamento e atrasos.
A esta altura, com os ministros discutindo se são "anjos" ou
"salafrários", as declarações de Valério entram por um ouvido e saem
por outro. Isso só mudaria de figura se o réu mais explosivo trocasse a mera
palavra por algo bem mais crível.
Fonte: Folha de S. Paulo
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