Com o financiamento público de campanhas, quem ficará na rua da amargura
será o PSB de Eduardo Campos, que vem incomodando Dilma e o PT com sua aura de
vencedor e sua pinta de candidato
Com os resultados da eleição municipal e, quem sabe, até o eflúvios da eleição
presidencial nos Estados Unidos, as forças que contam para a sucessão
presidencial de 2014 estão pisando fundo no acelerador. Era previsível, até
certo ponto é natural, mas será insustentável ou pelo menos nociva uma
pré-campanha tão longa. Vamos acreditar, por ora, que estejam todos promovendo
apenas alinhamentos estratégicos e que os governos federal e estaduais ainda
dedicarão 2013 à gestão e à administração.
A presidente Dilma Rousseff, candidata natural à reeleição, deu sua
acelerada ao reunir para um jantar, anteontem, a cúpula do PMDB. Neste
convescote, precedido de uma conversa de três horas entre Dilma e o
ex-presidente Lula, foi reiterada a aliança preferencial entre o PT e o PMDB, e
praticamente reconfirmado o nome de Michel Temer como candidato a vice. Segundo
os participantes, não se falou em nova pasta para o partido, mas um tema
consumiu boa parte da conversa: a reforma política. Dilma introduziu o assunto,
apontando a necessidade de aprovação de algumas mudanças pontuais, já que o
tempo é curto para reformas mais agudas. Rolou um debate e prevaleceu a ideia
de que o assunto entra na lista das prioridades. Esta parte da conversa tem um
significado importante, ainda que não tenha sido explicitado. Uma das mudanças
pontuais seria o financiamento público de campanhas eleitorais, e o ponto é
central do substitutivo do deputado petista Henrique Fontana, em análise numa
comissão especial da Câmara.
O governo terá um bom discurso a favor da mudança, alegando a necessidade de
acabar com o "caixa dois", delito gerador de outros crimes, a exemplo
do mensalão. Mas pode haver nela um cálculo eleitoral certeiro. Se o
financiamento público for aprovado, para vigorar em 2014, acrescido
naturalmente da criminalização das doações privadas, a coligação PT-PMDB será
aquinhoada com o maior naco de recursos do fundo partidário especial a ser
criado. Juntos, tiveram o maior número de votos e de eleitos para a Câmara em
2010. O PSDB virá logo atrás, melhorando sua situação se coligado ao DEM. Quem
ficará na rua da amargura será o PSB de Eduardo Campos, que vem incomodando
Dilma e o PT com sua aura de vencedor, sua pinta de candidato e suja
ambivalência em relação ao atual governo.
Picado pela mosca
Eduardo Campos também está pilotando seu projeto em alta velocidade. Por mais
que tente dissimular, está picado pelo inseto azul e seu partido não contém a
euforia com a possibilidade de disputar o poder com nome e projeto próprio.
Outros, flertam com a hipótese de uma aliança com o PSDB. Dilma o encontrará
amanhã em Salvador, em reunião com os governadores nordestinos para tratar da
seca na região. Não será ainda desta vez que tratarão de política e de
sucessão. Nem Eduardo tem pressa. Seu partido tem dois ministros no governo, há
uma refinaria a ser implantada em seu estado, entre outros projetos
importantes. Mas continuará acelerando pois ao comichão do poder também se
aplica o título da comédia de Marcos Caruso: "Trair e coçar é só começar".
Acelerada tucana. O senador Aécio Neves é uma espécie de candidato natural do PSDB. José Serra já
queimou suas oportunidades, o governador Geraldo Alckmin concorreu com Lula em
2006 e supostamente vai disputar a recondução ao Palácio dos Bandeirantes. Mas,
até agora, não explicitou o que pretende fazer. Observando os movimentos dos
concorrentes, Aécio confidenciou por estes dias a um colega de partido: não
pode ficar parado enquanto Dilma limpa as armas para a batalha e Eduardo Campos
pisa no acelerador. Viajou pelo país durante a campanha, mas, agora, precisa de
um horizonte mais claro.
Em breve, teria confidenciado ao interlocutor, vai procurar o governador de
São Paulo para uma conversa franca. Se Alckmin quiser ser candidato, terá todo
o seu apoio em Minas. Mas, se estiver decidido a buscar a reeleição, deverá
proferir uma declaração pública de apoio a Aécio, fundamental para criar o
clima de unidade no PSDB, atrair aliados e pavimentar a caminhada.
Derrota nacional. A votação do projeto de lei dos royalties, anteontem, foi naquele clima que os
políticos definem como de "vaca estranhando bezerro". Ninguém se
entendia, a proposta Zaratini, apoiada pelo governo, acabou derrotada. O
senador Francisco Dornelles aponta pelo menos três problemas graves no texto
aprovado: é inconstitucional, porque fere o artigo 20 da Constituição Federal,
que vincula os royalties aos estados produtores. É ilegal, porque fere
contratos já firmados. É novamente ilegal porque fere a legislação
orçamentária. Rio e Espírito Santo, em suas leis orçamentárias, contam com
recursos dos royalties para financiar gastos previdenciários e as dívidas
estaduais. Os dois estados vão recorrer ao STF. O que fará Dilma? O líder do
PMDB no Senado, Valdir Raupp, saiu do Alvorada dizendo que ela sancionará a lei
sem vetos. Há quem suponha, ou torça, para que ela vete alguns artigos e,
repetindo o que fez em relação ao Código Florestal, edite uma medida provisória
destinando os recursos derivados de contratos novos à educação, como queria o
governo. Neste ponto, a derrota foi do país. Mas o governo tem sua parte de
culpa. Só na semana passada o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, foi ao
Congresso dizer que esta era a posição oficial do governo.
Fonte: Correio Braziliense
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