Raymundo Costa
BRASÍLIA - A caminho de integrar o governo, o PSD avança rumo à coalizão de
partidos que deve apoiar a reeleição da presidente Dilma Rousseff.
Ontem o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, disse ao Valor que o PSD
pode integrar o ministério, "se a presidente Dilma (Rousseff) tiver
vontade de contar com algum quadro do partido". Fundador e presidente do
PSD, Kassab diz que hoje o partido é majoritariamente pelo apoio a Dilma
Rousseff. Na opinião do prefeito, a participação do partido no governo deve ser
simultânea a uma decisão sobre a aliança com Dilma "desde já".
Uma hipótese explosiva começou a circular entre os governistas: a de o PSD
indicar o vice-governador de São Paulo, Guilherme Afif Domingos para o
ministério. De acordo com aliados, seria mais um golpe na candidatura de
Geraldo Alckmin à reeleição.
A presidente Dilma Rousseff evitou tratar da sucessão de 2014 no jantar que
ofereceu às cúpulas do PT e do PMDB, mas assegurou que vai respeitar os acordos
firmados entre os dois partidos em relação à eleição para a presidência da
Câmara. Apenas não vai se envolver no processo eleitoral.
Dilma cortou uma tentativa do presidente em exercício do PMDB, Valdir Raupp
(RO), de tratar sobre espaços dos Estados no governo. "Não é aqui nem
agora (que esse assunto deve ser tratado)", disse Dilma. Segundo a
presidente, ainda há dois anos de mandato a cumprir e a hora é de "muito
trabalho".
Os pemedebistas ficaram satisfeitos com o discurso da presidente. Consideram
que tudo ocorreu de acordo com o figurino e Dilma sinalizou com clareza que a
aliança PT-PMDB será mantida em 2014. "Vamos continuar governando, 2013
vai ser muito bom", teria dito a presidente, segundo um dos convidados.
Além de Dilma e do vice Michel Temer, participaram do jantar os presidentes
das duas siglas, quatro ministros de cada partido, os lideres de bancada no
Senado e na Câmara, além dos líderes do governo. Ao contrário do que chegou a
ser especulado, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva estava em Brasília
mas não foi ao jantar. Mais cedo, na terça-feira, Lula se reuniu longamente com
Dilma, como tem feito nos últimos meses.
Quando falou em divisão de espaços no primeiro escalão do governo, Raupp queria
se referir ao que considera uma sub-representação de Minas Gerais. O Estado
conta com apenas um ministro no governo: Fernando Pimentel, do Desenvolvimento,
Indústria e Comércio.
Dilma surpreendeu ao incentivar os dois partidos a se empenhar pela reforma
política. Essencialmente, financiamento de campanha e acesso à televisão dos
partidos nanicos. Há uma compreensão geral de que uma reforma política ampla,
da forma como é tentada há anos no Congresso, é praticamente inviável.
Nesse aspecto, há versões desencontradas. Entre os congressistas presentes
houve quem entendesse que a presidente até se dispôs a enviar um projeto de
reforma ao Congresso, se esse fosse o desejo dos partidos. Os ministros, no
entanto, dizem que Dilma foi clara, ao tratar do assunto: "A reforma não é
coisa do governo. É assunto do Congresso".
Ela chegou a sugerir que o vice-presidente Michel Temer poderia contribuir
por sua experiência parlamentar e grande qualificação profissional - ele é
professor de direito constitucional. Segundo Dilma, a reforma política é um
assunto tão importante que deve envolver inclusive os partidos da oposição.
Para os políticos presentes, Dilma não falou de 2014 mas ficou sub-entendido
que o governo precisa trabalhar com afinco em 2013 para ter o que mostrar na
sucessão presidencial. Quando cortou Valdir Raupp, deixou claro que não quer
precipitar a discussão sobre a eleição presidencial de 2014.
Na realidade, Dilma deve recompor o governo depois das eleições das Mesas da
Câmara e do Senado, no dia 1º de fevereiro de 2013. No Senado, ela absorveu a
decisão da bancada do PMDB de indicar o líder Renan Calheiros para o lugar
atualmente ocupado por José Sarney (AP). Renan, no entanto, enfrenta
resistências de um grupo dissidente pemedebista. Mas o lugar, está certo, será
de um pemedebista.
O problema maior é na Câmara dos Deputados. PT e PMDB firmaram um
compromisso, por escrito, pelo qual fariam um rodízio na presidência da Casa.
Há um grupo petista, no entanto, que contesta o acerto feito antes das eleições
proporcionais de 2010 que deram maioria ao PT na Câmara, quando o esperado era
que o PMDB elegesse a maior bancada de deputados.
Desse grupo participam o deputado Arlindo Chinaglia (SP), líder do governo,
o presidente da Câmara, Marco Maia (RS), e até o deputado Cândido Vaccarezza
(SP), preterido várias vezes pelo Planalto para funções como a coordenação
política do governo e até a liderança de Dilma na Câmara.
Embora não queria precipitar a sucessão, Dilma trabalha para fazer uma
grande aliança em 2014 e deixar pouco espaço de manobra para o governador de
Pernambuco, Eduardo Campos, em quem o Palácio do Planalto vê um potencial
adversário em 2014. "Asfixiar" Campos, é a expressão utilizada por
aliados de Dilma.
Fonte: Valor Econômico
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