quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Em jantar, presidente afaga PMDB, mas sem compromissos para 2014

Partido esperava anúncio da reedição da chapa com Michel Temer à reeleição

Fernanda Krakovics, Maria Lima

BRASÍLIA - Os caciques do PMDB saíram frustrados do jantar com a presidente Dilma Rousseff anteontem, no Palácio da Alvorada. Entenderam o encontro como mais um afago no PMDB e no vice-presidente Michel Temer para amarrar o apoio do partido, mas esperavam que ela anunciasse o compromisso de selar a chapa Dilma-Temer para 2014, o aumento de participação do partido no Ministério e o apoio explícito às candidaturas peemedebistas às presidências da Câmara e do Senado. Alguns peemedebistas consideram que o ex-presidente Lula esvaziou o encontro, primeiro, não comparecendo, e também orientando a presidente a deixar tudo em aberto, pois, caso selasse os acordos a dois anos da eleição, poderia deixar o presidente do PSB, o governador Eduardo Campos, com tempo de buscar um voo solo nas próximas eleições.

A noite foi de sinalizações, mas nada de concreto foi verbalizado. Participaram as cúpulas do PT e do PMDB, além de ministros dos dois partidos. Dilma deve fazer com os demais partidos da base jantares de confraternização semelhantes ao de anteontem. O encontro serviu para afagar os dois partidos e para deixar claro qual é a aliança preferencial para 2014. Apesar do recado óbvio para as pretensões presidenciais de Eduardo Campos, o PSB deve ser um dos próximos a receber novo afago da presidente.

- Foi uma jogada chamar muita gente para o jantar que seria do PMDB. Não tinha nada a ver chamar o povo do PT. Nem aproveitou todo mundo para fazer o anúncio, nem fez só com o PMDB, para que pudesse conversar sobre nossos interesses. Saiu todo mundo chupando o dedo, e Dilma tirou o corpo fora de tudo. Michel, que vinha vendendo para dentro do partido que estava tudo muito bem encaminhado, já refluiu e não cobra mais a pasta para Chalita. Ela fez cara de paisagem para tudo - comentou ontem um interlocutor de Temer.

Orientada pelo ex-presidente Lula, com quem conversou mais cedo no Alvorada, Dilma teve o cuidado de evitar gestos que afastassem ainda mais o presidente do PSB, Eduardo Campos. Embora o tema não tenha sido abordado diretamente, o presidente do PMDB, senador Valdir Raupp (RO), entendeu que ficou subentendida a repetição da chapa Dilma-Temer.

- Isso não foi conversado, mas já está mais ou menos acertado - disse Raupp após o encontro.

Segundo relato dos presentes, Dilma estava especialmente gentil e conduziu o jantar em clima de confraternização. Com um brinde, a presidente Dilma festejou a "solidez" da aliança com o PMDB, mas não traçou planos para 2014 e descartou, educadamente, discutir cargos agora. Disse, isso sim, que os próximos dois anos serão de muito trabalho para o governo.

Elogiou a parceria com o PMDB, principalmente ao falar das eleições municipais em São Paulo, quando citou nominalmente o apoio, no segundo turno, do deputado Gabriel Chalita (PMDB-SP); e Belo Horizonte, onde os peemedebistas abriram mão de candidatura própria.

Coube ao presidente do PMDB entrar no assunto delicado de cargos, aproveitando a deixa da presidente sobre as eleições em Belo Horizonte. Dilma deve fazer ajustes em seu Ministério, no início do ano que vem, para compensar o apoio de Chalita à candidatura de Fernando Haddad (PT) e também para abrigar o PSD do prefeito Gilberto Kassab (SP).

- Eu tenho ouvido, não só na bancada de Minas, mas também na imprensa mineira, que está na hora de ampliar a representação no governo. Minas já teve oito ministérios e agora só tem um - disse Raupp.

Contrariada, mas mantendo o bom humor, a presidente cortou a conversa imediatamente:

- Esse é um assunto que a gente vai discutir mais na frente.

Sobre as eleições para as presidências da Câmara e do Senado, Dilma afirmou que o governo não vai interferir, mas que acordo é para ser cumprido, referindo-se ao entendimento entre PT e PMDB sobre a presidência da Câmara.

Ao ouvir que o governo não vai se meter nas eleições das Mesas Diretoras da Câmara e do Senado, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), brincou:

- O senador Ruy Carneiro (1906-1977) contava uma piada em que um padre, na Paraíba, dizia que a Igreja nunca se metia na eleição, mas um dos candidatos comungava todos os dias.

Dilma retrucou, também brincando:

- Mas eu não vou comungar, não!

O Palácio do Planalto sempre faz o discurso de que não vai participar das articulações para as eleições dos presidentes da Câmara e do Senado, porque seria interferência sobre outro poder, mas, nos bastidores, sempre tem candidatos e trabalha para que sejam eleitos.

Sobre o Congresso, Dilma falou em aproveitar 2013, quando não há eleição, para votar a reforma política. Ela tem conversado sobre isso com Temer. Dilma disse que o governo poderia incentivar a discussão. Alguns parlamentares sugeriram que o Planalto envie uma proposta, porque assim seria mais fácil de aprovar.

Fonte: O Globo

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