Discutida com Lula e Dilma, a decisão contraria aliados de José Dirceu e José Genoino — críticos à condenação por corrupção ativa e formação de quadrilha. Rui Falcão, presidente do PT, diz que a sigla aguardará a definição das penas.
Dividido,
PT adia manifesto contra condenações no STF
Recuo na divulgação de texto em defesa de petistas foi debatido com Lula e
Dilma
Rui Falcão afirma que legenda tem "avaliação crítica" do
julgamento, mas só vai se expressar quando ele terminar
Natuza Nery, Catia Seabra, Bernardo Mello Franco
BRASÍLIA, SÃO PAULO - Dividido, o PT desistiu de divulgar hoje um manifesto
contra a atuação do Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão.
O texto, que atacaria a condenação de petistas como José Dirceu e José
Genoino por corrupção ativa e formação de quadrilha, ficará para depois da
definição das penas.
"Temos uma avaliação crítica do julgamento e vamos fazê-la assim que
ele for concluído", disse ontem o presidente do PT, Rui Falcão, a
correspondentes estrangeiros.
Conforme interlocutores, o mais recente cálculo, já discutido com Lula e a
presidente Dilma Rousseff, é que não se pode transformar 2013 numa batalha
campal contra o Supremo nem trazer para o colo do partido o ônus dessa
mobilização.
Essa ponderação não casa com a expectativa de aliados dos réus Dirceu e
Genoino, que pretendem conflagrar a militância contra o tribunal.
Nas últimas semanas, o PT já conteve ataques ao STF para não prejudicar seus
candidatos nas eleições. A principal preocupação era evitar desgastes para
Fernando Haddad em São Paulo.
Agora, após a vitória do ex-ministro, petistas evitam expor o sentimento de
revanche. O partido deve se solidarizar com os condenados atacando a
"politização" do julgamento, mas não fará campanha permanente por
eles.
Eventuais iniciativas contra a decisão do STF, como campanhas por anistia ou
recursos a cortes internacionais, não deverão ser lideradas pelo PT, e sim
pelos réus.
O deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP) pedirá que a Comissão de Fiscalização
e Controle da Câmara investigue o procurador-geral da República, Roberto
Gurgel, que sustentou a acusação aos petistas no julgamento.
A instituição divulgou recentemente uma cartilha para crianças explicando o
mensalão. "Ele queria interferir no processo eleitoral e isso não
pode", diz o petista.
Segundo um ministro petista, a ordem é agir com mais "cérebro" e
menos "fígado".
Por ora, o único elemento capaz de reverter essa disposição seria a hipótese
de o ex-presidente Lula virar alvo. Nesse caso, até mesmo a presidente Dilma
tenderia a entrar no circuito para defender o antecessor.
"O PT não está em julgamento. Quem foi julgado foram alguns militantes
do PT. Há uma tentativa de transformar o julgamento de pessoas em julgamento do
partido", disse Falcão ontem.
"Isso [o mensalão] nunca foi comprovado. Isso é uma narrativa que foi
feita e não há comprovação material de compra de votos. Há suposições e
ilações", afirmou.
Ao falar sobre segurança pública, o presidente do PT repetiu a máxima de que
no Brasil só vão presos "três Ps", vistos como "inimigos em
potencial": pobres, pretos e prostitutas. "Agora acrescentaram outro
P, que são os petistas", disse Falcão.
Sem expulsões
O dirigente disse anteontem a deputados que o artigo do estatuto do PT que
prevê a expulsão de filiados que cometerem "crimes infamantes" não
será usado contra os réus do mensalão. "Não se aplica a nenhum
deles", disse. "Quem aplica o estatuto somos nós. E somos nós que
interpretamos o estatuto."
Fonte: Folha de S. Paulo
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